Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganharE perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrerRenasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.
Paulo de Carvalho, José Niza, José Calvário
Hoje, só hoje, apeteceu-me, quem sabe se todos os dias virá assim do peito, a vontade, uma canção, uma canção contra o medo instalado que nos faz pequenos funcionários num tempo de poeira e pequenez. O humano, no seu valor, na sua coragem, na sua capacidade para a grande alegria está como tolhido, embestado, espalhado por tarefas que o fragmentam, desfocado, aturdido em finança, quantificado, retorcido, vazio. alheado. Todos os mistérios, os grandes se esvaziam com ele, com a quantidade de discursos patéticos e repetitivos de uma razoável medida, experiências de areia no mar. Quando perdemos a coragem para dizer um não ou um sim audível que trace uma fronteira e nos enteirice no ser que somos, vontade e imaginação, determinação, esperança? Vejo imagens do Largo do Carmo em 74, comovo-me...comovo-me com aquele riso, aquela confusão de espingardas e apertos de mão. Foi para isto que fizemos uma revolução? para sermos apagados por contadores de taxas de juro? alienados na função sem saber o propósito? fiscalizados? hipotecados? É isto a democracia?