sexta-feira, julho 28, 2006

férias
Nunca gostei do conceito. Mais nova e desalinhada contrariava a tendência comum e trabalhava nas férias, nesse mês onde a cidade de Lisboa ficava deserta e era possível vagabundear sozinha pelas ruas, as pessoas estavam mais descontraídas e as noites mais animadas, íamos para salas de cinema com ar condicionado enquanto lá fora se torrava. Nessas alturas ensaiava peças ou representava, trabalhava a substituir alguém numa livraria ou na copa de um restaurante. Era ponto assente que Agosto era para ficar na cidade porque os burgueses iam na massa mas nós não, os artistas eram o avesso, respiravam exactamente na altura em que todos sustinham a respiração.
Agora algo mudou, passados 20 anos muita gente tem apenas uma semanita de férias e ficar em Lisboa em Agosto não é nenhuma experiência revolucionária, há carros por todo o lado, um ar irrespirável e o mesmo frenesim de um dia normal de um normal período de trabalho. Aquele grande mês de êxodo foi substituído por uma semanita aqui outra além, concentrada e curta, a féria já nem se nota.
Como toda a gente, também tiro dez diazinhos para, utilizando uma expressão na moda, gozar num lugar qualquer, uma interrupçãozinha antes de começar tudo de novo, mas este novo espírito tecnocrata, de férias como terapia para poder trabalhar mais e melhor está a irritar-me. Muito.
O trabalho que se lixe (falo de trabalho assalariado que é o trabalho de quase todos nós) continuo a considerá-lo uma forma de escravatura torpe e mal cheirosa! Sacrificar o que somos ao trabalho parece-me coisa de carraça e não de homem e depois perdoem-me mas que se lixem as férias, a nossa vida não está compartimentada, é um todo gaita, um organismo palpitante, de onde saiem pequenas fagulhas de coisa nenhuma sem qualquer utilidade. Não vivemos para produzir, pelo contrário, na minha modesta opinião já produzimos porcaria que chegue e urge fazer uma pausa? Hein? Na produção, tirar o pé do pedal e bolinar? Ao sabor do vento.

6 Comments:

Blogger Peg solo said...

"vida como organismo palpitante" é uma ideia muito engraçada! tendo em conta o drama e os fatalismo p os quais ando virada acho que acertas em cheio e q o caminho é mm seguir o vento ;)

9:16 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

Que tal férias coletivas para a humanidade?
Exoneração contumaz de seres humanos desqualificados para a função de doce far niente. Exemplo: G.W. Bush, pois logo iria arrumar confusão, Tony Blair, pois logo iria se juntar ao Bush, Hisbolás, Hammas, Xiitas, Sunitas, Judeus, e Cristãos fundamentalistas somados aos nazistas, pois nenhum deles sabem conviver com as diferenças ao redor.
Todos teriam dois coqueiros e uma rede e dois metros quadrados de praia para se espreguiçar à vontade. Um ócio produtivo coletivo e irremediável! Quem sabe depois de tudo, não conseguiriamos nos reinventar? Descobrir a PAZ?! Amar mais... sentir mais!

6:40 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

correção: DOLCE e não doce...

6:41 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

Ainda me lembro dessa Lisboa em Agosto vazia e mais...pura. Acho que não é assim há tão pouco tempo que o caos se mantém! Ai os saudosos anos 90!:)
Agora muitas pessoas tiram férias no inverno para irem para ilhas paradisiacas esquecer o frio de caracaca que faz por aqui em janeiro e fevereiro!

Boas férias manhã!
Quando vais a LA?

12:04 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

bomba: obrigada!

pegsolo: exacto, gone with the wind!

pablo:sim, já agora, porque não?

pé: caracaca? Também há para adultos? Oi!

3:24 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

Keep up the good work » » »

1:45 da tarde <$BlogCommentDelete>

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