malabarismo
Admito que somos hoje mais complexos do que éramos, ou melhor, temos uma consciência carregadinha de conceitos e valores que se guerreiam e discutem contribuindo para uma visão mais rica sobre nós próprios, uma visão cheiinha de possibilidades. precisamos de árduo trabalho para ordenar todas essas vontades talvez porque a herança que nos corre nas veias, as várias civilidades, nos tenham obrigado a perspectivar, o que não significa (não deve significar) relativizar. dos gregos alimentamos o cuidado de si, a nostalgia com um passado original e perfeito, o gosto pela vida contemplativa e a visão de uma educação da excelência orientada pelas virtudes. dos judaico/cristãos a necessidade de expiação da culpa, os mecanismos de confissão, a atormentada consciência, dos modernos a confiança no espírito científico, no progresso e na racionalidade das nossas opções. daí que educar hoje tenha qualquer coisa de circense, malabarista, será como manter no ar sem cair várias bolas de diferentes tamanhos e cores, para isso temos de as manter em constante movimento, sem fixar, sem parar, obrigando a uma atenção contínua e focada em diferentes objectos simultaneamente. Basta uma pequena distracção e sentimos logo que o sistema empancou, é preciso voltar e tentar de novo. Pegar nas bolas e pô-las em movimento porque a questão principal parece-me a percepção do movimento, o modo como a proximidade de cada uma destas formas desenha, de forma dinâmica, o esquema sobre o qual nos compreendemos e nos avaliamos.
Imagem: Un autre monde, J.J. Grandville, 1884
10 Comments:
Melhor malabarismo será o momento que não será preciso ordenar, nem colocar em seguimento
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obrigada pela partilha do texto
njo
Acho que esta herança judaico-cristã que me irrita sobremaneira. Por isso é que de certa forma admiro os povos do norte, apesar de terem alguma dificuldade em se divertirem. Mas esta coisa da culpa e da confissão e de rezar não sei quantos avés marias para se ficar "perdoado" perante o Senhor é tão incrivelmente rebuscado...
É o processo ascencional do Homem que, apesar dos pesares, prossegue. E claro ...se traz complexidade, também traz complicações...
:)
a cada dia que passa me quero afastar mais da culpa castigo.
sair urgentemente desse círculo de racionalização concêntrica
viciada.
sentir. simplificar. na prática:
... ser (
~
nós somos e com muita honra, completamente judaico-cristãs.
loulou + nini
Importa de facto saber-se "encenar" a vida...
Não quer vistar o meu blog? talvez aprecie as minhas "alegorias"
preocupação muito "post moderna". a do equilibrio!...
mas mais que a "ordem" a "desordem" animar a História e o progresso.
excelente texto. sempre...
gato escondido com o rabo de fora -
- o último comentário é do Herético. rss
(este encena_dor está a abusar eheheh)
ola helena
obrigado pela tua visita. ja que vim ate aqui li-te tambem.
dizes que somos mais complexos que antes. concordo
mas assim de repente lembrei-me dos antigos gregos. as questoes que eles colocavam eram ja bem complexas.
beijinhos
presença: são sempre precisas as prioridades. Bjo
martini:rebuscado, é mesmo, a penitência, parece que não há relação entre o pecado e a sua absolvição pela reza, mas alivia a consciência, deve ser por isso.
mdsol: progride e tem que equilibrar, (deve) vários pratos ao mesmo tempo.
~pi: Para quem tem uma educação judaico/cristã a culpa permanece de pedra e cal, há que viver com ela e ser.
casa-de-passe: Pois, apesar de um bocadinho de esguelha!
encena-dor:não é nada pós-moderno,é mesmo basilar e arquétipo! Já lá vou ver o blog!
herético: tá percebido! Boa sorte para o novo blog!
leonor: pois eram, mas ainda as temos mais outras que são as do nosso tempo! Obrigada pela visita!
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