quarta-feira, setembro 03, 2008

identificação

Arthur Fellig

Há qualquer coisa de estranho em mim, possivelmente muito estranho: não me identifico com nada

Não me identifico com certas pessoas, nem com certos grupos, nem com ideologias, nem com ambientes, nem com lugares, nem com trabalhos, nem com pensamentos.

Isto vem a talhe de foice da conversa com uma amiga. Estavamos na praia do Meco de nalga ao léu ( eu cá tinha as nalgas tapadas. Lá está! não me identifico com os nudistas nas praias de nudistas, nem com o nudismo ) então dizia a minha amiga:

- Não sei se vá à festa do Avante! Já não me identifico com aquilo!

pressenti naquela resposta um rumor surdo do que também pensava e não queria admitir, de modo que disparei : Tu também não te identificas com nada! Ela respondeu-me enumerando algumas coisas com as quais se identifica, poucas verdadeiramente significativas, mais miudezas. Fiquei a magicar se seria ou não sinal de vitalidade cósmica identificarmo-nos com grandes sintomas civilizacionais: uma ideologia por exemplo, um grupo. Na verdade sozinhos só assobiamos para o alto, mas também não é esse um sinal de quem pensa com a sua cabeça? nem aqui pareço ter a identificação completa do meu problema: é que nem sempre penso com a minha,outro dia pedi uma cabeça emprestada para solucionar um caso bicudo e identifiquei-me com a solução dada.

21 Comments:

Blogger Bandida said...

"Ó meu castelo, minha Saxe,meu bosque de salgueiros.As tardes, as manhãs,os dias..." Rimbaud


identificas-te?


abraço

1:30 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

no caso da festa, eu empresto-te metade da minha... e do estômago tb, se for necessário, do coração.

1:30 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

é no que dá quando o Universo é desenhado à dimensão do nosso umbigo. nada se ajusta ao "buraquinho"... luminoso. rss

beijo

12:47 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger luis lourenço said...

O que não se pode mudar mesmo que fazer? uma bela resignação! quanto à identificação! é forçar uma impoosibilidade...nada como a individualidade...acho eu...paraquê pensar com o que nos dvemos identificar? a vida com suas verdades e mentiras traz as identificações primordiais...o resto é especulativo...vivam as teorias que nos aproximam da vida...Universo.
vim a este espaço...pela natureza do título.

4:37 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger mdsol said...

Entendo a questão colocada. Se entendo!
:))

9:39 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Unknown said...

Lá está! Pediste a cabeça emprestada. Mas não te identificaste com a cabeça.
Identificaste-te com a resposta...
Quem me dera poder pedir uma cabeça emprestada para esse efeito!
[Beijo despojado!]

12:14 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger ~pi said...

mais o ar mais o ar

descentrar

escavar


[ ,dizem, bem, li não sei onde

que é muito saudável pertencer

a grupos, claro que se tivermos

um deus e acreditarmos é tudo

mais pragmático

mais fácil, e às vezes quero isso,

há dias que acredito em `coisas`

, não tanto pessoas, mas coisas

acredito nelas intensamente

( coisas que vejo e me tocam

que identifico como

essência história memória

coisas de terra e de

água

? podemos escolher

e decidir muita coisa importante

nesse colo nessa

base



?



~

2:59 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... chiça! nem quando regresso estoirado de umas valentes férias, me facilitas as coisas. Essa tua vocação de escreveres textos a "dar para o pensamento" sem intervalar...

1. Não há nada de estranho em ti. Afianço-te, que sou mais velho que tu e fui dos primeiros a "não me identificar com nada". E fica descansadinha que há milhares e milhares deles (e delas), sobretudo nos tempos que correm, nessa ambígua (deixa-me rir!) situação.
2. No "percurso dialogante entre o Meco e a festa do Avante!", ou cometeste uma gaffe ou estás a tirar nabos da púcara aos teus comentadores. Seria a altura para dares graças, teres uma amiga que também não se "identifica com nada". Ao contrário, repreendeste-a. Ficámos então a saber que não mostraste as nalgas, mas sobre a ida à Festa, nicles.
3. Sobre a "vitalidade cósmica" apenas se me oferece dizer isto: afinal quem é que anda aqui neste reduzido grupo de cidadãos teclistas-virtuais a tentar fazer rir o pessoal? és tu ou sou eu?! No que a mim se refere, pratico o assobio para a frente e entre ideologias ou grupos, prefiro por norma pensar pela minha cabeça... que diga-se de passagem, é um exercício mentalmente higiénico porque... obriga a pensar.
4. Nunca pediria emprestada a cabeça de outrém. Numa época de devassidão moral como a que hoje atravessamos, sei lá onde é que as pessoas metem a sua cabeça...

5:47 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

bandida: sim, identifico-me com essa espécie de despojamento presente nessa frase, também um certo cansaço, uma certa ternura.abraço.

anónimo: tudo metades, portanto.
metade da cabeça
metade do estõmago
metade do coração, mas só em caso de necessidade...
o coraçãozinho faz muita falta, não é para andar a distribuir assim...eheheh

heretico: tábem, é piquenito e esquisito, mas também, desculpa, nã me identifico com ele!bjo

véu de maya: resignemo-nos à estranha cosmologia do mundo!

mdsol:somos vários, é verdade, com variadas visões.

um ar de: é cómodo e parece-me que em alturas de aflição, alivia!Bjo, também despojado...

~pi: falas de crença, acho que tem a ver com isso, com acreditar, facilita não colocar muitas questões, mas não há como fugir-lhes...

ó legível vou tentar responder-te ponto por ponto, apesar de já estar meia a dormir,
1.és um querido
2.fica para a próxima, a história das nalgas,quiça, de repente, sopra por aí um ar de eighties e toca a descascar!não ponho de parte a hipótese...
3. continuo a apostar em ti, sem substitutos, foi só um fait divers!
4.ehehehe fazes bem, nã tinha pensado nisso!

10:56 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Clara said...

Ai o que eu não dava para ir à festa do Avante ahahaahah qualquer dia tiro férias em Setembro só para ir aí curtir a festa lol lol
Acho que quando uma pessoa não se identifica com nada, significa que essa pessoa é diferente da maioria não é?
Bjks

10:01 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

pois, identifico-me muito com o teu texto embora nem sempre me identifique com os teus textos, aliás quase nenhuns, no entanto já te identificaste com montes de coisas que sugerem alguém que se identifica com algo :DDD

aliás esse é o meu grande problema: padeço de uma enorme desconfiança a grupos, ideologias, rituais e tudo o mais que me exija lealdade, servir e coerência ideologica. digamos que sou mercenária :DDDD

já me babei com o meu comentário, tava capaz e fazer um post.. em honra de outros tempos de servidão de blogs :DDDDDD

7:37 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Martini said...

ORa, ora, eu conheço este blog há 3 anos e meio e posso afiançar que a pessoa por tras das teclas indetifica-se com um sem número de coisas. A questão é, e eu padeço do mesmo problema, por vezes é dificil identificarmo-nos com o outro, ou a maioria, e as nossas identificações são tao incrivelmente próprias que nos apraz dizer que não nos identificamos com nada...em comum com os outros.
Eu tenho sérios problemas de identificação, pouca gente vÊ o mundo como eu e isso faz-nos sentir talvez um pouco isolados.

Beijos Manhã :)

12:53 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

olha olha a Martini tb acha o mesmo que eu, Manhã Manhã tu tás identificada tás :P

11:10 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana said...

Ufa, que alívio!!!
Ainda bem que há mais alguém a sofrer do mesmo mal.
Não é muito confortável porque, insensìvelmente, começamos a afastar-nos de uma série de pessoas.

Mas lá que este mundo anda complicado, lá isso...

Beijinho

10:05 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger margarida já muito desfolhada said...

vim aqui por acaso e olha, identifico-me com tudo o que dizes neste post.

e sabes se caio na asneira (caía por vezes) de tentar ser como os outros sou muito boazinha e gostam muito de mim; se sou eu, acham-me péssima.

mas sou eu!

1:16 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Também me identifico com muito pouca coisa do que há por aí... normalmente, isso tem custos, mas faz-nos descobrir o nosso verdadeiro eu. E depois, quem é assim difícil em identificações, não muda.

Já li nos comentários muitas coisas interessantes e com as quais até me identifico, assim como com muito do que dizes no teu texto. Mas... coincidência de identidades à parte, é bom pensar sempre pela nossa própria cabeça.

No entanto, foi a tua que me fez pensar, agora. Depois, a minha seguiu o seu caminho...
Bom, acho que precisamos sempre um bocadinho dos outros. Mas tenho horror a seitas e grupos afins que exigem lealdade incondicional.

Ai, a vã(imprescindível) filosofia...! :)

Um beijinho e bom recomeço...

2:18 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

que me desculpem o atraso nas respostas aos comentadores, a única justificação é a preguiça, mea culpa!

então cá vai:
clara:não precisas de férias que é ao fim de semana, a não ser que trabalhes ao fim de semana e se assim é o melhor é mudar de trabalho..eheh
também é isso, acho que é sobretudo isso.

mónica: mo, não há como me defender destes teus ataques, pois criva-me de balas, chama-me incoerente! pois que um certo nível de contradição é bom para o desenvolvimento da higiene mental e vê lá se não estás dois anos sem dizer palavra!

martini: assim é batota! não há como fugir! a retrospectiva e o balanço são sempre traiçoeiros, pode-se dar o caso de tudo isso ter sido uma grande ilusão! big illusion em inglês!beijos martini!(já se bebia um!)

ana:pois é, há assim uma lufa lufa de coisa nenhuma que nos baralha!Bjo

margarida já muito desfolhada: pelos vistos é um estado geral, como se fossemos estrangeiros na nossa terrinha. sermos nós dá sempre confusão e bofetada, é melhor ser como o Pessoa, o outro.bem vinda.

ana paula:claro que precisamos da cabeça dos outros e não só da cabeça, não só da cabeça, de quase tudo excepção para coisas que não vale a pena mencionar porque todos sabemos quais são.
a filosofia não é vã, sem ela o mundo seria menos interessante,aliás nem seria mundo mas uma série de fragmentos isolados. bjo Bom começo!

10:28 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Clara said...

Ai Manhã..preciso de férias sim porque estou a morar em Angola ahahahaha

4:34 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger -pirata-vermelho- said...

Tamanha normalidade só poderia aparecer como coisa assutadora ou seria o medo de ser livre a fazer o orgulho de ser escrava?

11:03 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

clara: eu sabia que eras de Angola mas como falas de bairro alto, pensei que estavas por cá! enganei-me! de facto assim era difícil!

-pirata-vermelho: isso mas com um olhar felino...

10:50 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Clara said...

Pois, falo de Bairro Alto porque lá era a minha segunda casa. Passei em vida toda em Portugal e as raízes estão cá dentro..são profundas..do tamanho da minha saudade!
Ena! Este comentário saiu-me melancólico ahahahaha

12:26 da tarde <$BlogCommentDelete>

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