domingo, julho 10, 2005

mediações e ego

Vivemos na época das mediações e do ego. A escrita é um dos exemplos onde o espírito cordato e democrático se mistura com as mais puras manifestações de umbigos exacerbados e eufóricos, uma mistura que traz, agarrada pelos cabelos, uma incomunicação essencial, coloca-nos assim numa espécie de ilhotas onde a tarefa mais emergente é espreitar de binóculos o que faz o outro da ilhota ao lado, à espera de ver qualquer coisa de picante que nos anime ou estimule, sabendo nós que nunca lhe vamos chegar à fala para discutir seja o que for pois no nosso espírito democrático uma vozinha nos diz: Porque não? Que engraçado! Tem todo o direito! etc
Tudo a propósito da frase que encontrei, por acaso, ao folhear o último livro da Margarida Rebelo Pinto, na Fnac. Começa assim o livro da autora mais lida deste 'piqueno' país: " Eu preciso de um herói".Fiquei imediatamente furiosa. OK, minha, tu precisas de um herói, ora bem, eu preciso de uns dinheiritos para comprar uma casa, de arranjar a canalização, de ensinar o cão a obedecer...de heróis, não muito obrigada , tenho pra troca. A seguir, interroguei-me sobre este eu, quem é este eu senão a Margaridinha com os seus vestidinhos Prada, as suas passeatas de jeep nos montes alentejanos , os seus namorados com escritórios em Lisboa. Este eu, é o eu dela, que interessa isso ao mundo? Que me interessa a mim? E a ti? Precisarás tu de um herói?
A minha costela democrática apazigua a indignação de ver a literatura reduzida a uma comichão no umbigo e responde que é mesmo assim , a diversidade, que há gostos para tudo e cada um tem o seu, e essa parafernália de coisas banais que nada dizem senão que já não sabemos chamar os bois pelos seus nomes e dizer bem alto "Isto é lixo" e o lixo tresanda, suja, deve ser tratado e reciclado e não exibido em praça pública para fazermos uma pausa entre perfumes admitindo que o cheiro do lixo tem o seu toque de extravagância e por isso há que deixá-lo sossegadinho.
O que se passa? Confundiremos nós democracia com lixocracia? Tolerância com falta de valores? Bolas! Lembro-me da questão do Foucault: O que merece ser publicado? O que merece ser visto? Qual a diferença entre um romance do Flaubert e uma lista do Supermercado? Pelos vistos, nenhuma.

6 Comments:

Blogger  said...

Post muito pertinente, manhã. A democracia tem resultados ambiguos, e dentro dessa ambiguidade, há os resultados nefastos.
Há quem diga que o lixo tem de existir para que o mesmo bom se evidencie. Mas quando o lixo é tão mau e quando a adesão é tanta que se educa um povo com lixo...
Portugal é pequenino, é mediocre...resta-nos não perder a esperança e esperar que ao mesmo tempo que há muita gente que compra livros de MRP, há também aqueles que compram livros de Focault (como eu e muito boa gente!)

11:50 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

PS: quem precisa de heróis é porque não acredita em si próprio? (será? é quase como que acreditar em deus...)

11:53 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Olá Pé! É verdade,como é que a dita cuja vende que se farta enquanto os livro de poesia, que é do melhor que se faz em Portugal não passam da primeira edição? Bolas!!

Não ponho a coisas nesses termos, todos precisamo de heróis, aposto que também tens os teus, só que gaita, não me parece ser tarefa que mereça romance!

11:44 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Peg solo said...

"herois ha mtos meu palerma!" Adaptação fácil!psicológicamente esse inicio da MRP parece-me o contrário do que parece, ela vê-se cm heroína da literatura portuguesa, diz-se a pessoa que faz ler os q não lêem! Acho que as pessoas a lêem é pq não tiveram educação literária, não sabem que há mais e melhor naquelas coisas estranhas e pesadas q são os livros. Não deixa de ser culpa propria mas que é principalmente da cultura portuguesa, é um país q se diz pequeno em q as pessoas se justificam por ser pequeno, por pensar pequeno. Tenho e de preciso ter fé naquelas q remam contra a maré e tentam criar novas marés!

10:31 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

Herois tenho-os, mas evito depender da esperança q eles deviam dar-me. Para não sofrer desilusões.
Balelas

10:54 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Pé e Pegada
Poça eu cá tenho heróis pra dar e vender, deixo-me encantar por uma frase, um quadro,uma vida, sem um modelo pré-concebido pois tanto admiro uma mulher do campo que trabalha de sol a sol como o Visconti que era aristocrata e fazia filmes. É assim, e desta não é o vinho que fala...talvez a noite...esta altura de festas causa-me nostalgia e a nostalgia alimenta os heróis.

11:51 da tarde <$BlogCommentDelete>

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