mediações e ego
Vivemos na época das mediações e do ego. A escrita é um dos exemplos onde o espírito cordato e democrático se mistura com as mais puras manifestações de umbigos exacerbados e eufóricos, uma mistura que traz, agarrada pelos cabelos, uma incomunicação essencial, coloca-nos assim numa espécie de ilhotas onde a tarefa mais emergente é espreitar de binóculos o que faz o outro da ilhota ao lado, à espera de ver qualquer coisa de picante que nos anime ou estimule, sabendo nós que nunca lhe vamos chegar à fala para discutir seja o que for pois no nosso espírito democrático uma vozinha nos diz: Porque não? Que engraçado! Tem todo o direito! etc
Tudo a propósito da frase que encontrei, por acaso, ao folhear o último livro da Margarida Rebelo Pinto, na Fnac. Começa assim o livro da autora mais lida deste 'piqueno' país: " Eu preciso de um herói".Fiquei imediatamente furiosa. OK, minha, tu precisas de um herói, ora bem, eu preciso de uns dinheiritos para comprar uma casa, de arranjar a canalização, de ensinar o cão a obedecer...de heróis, não muito obrigada , tenho pra troca. A seguir, interroguei-me sobre este eu, quem é este eu senão a Margaridinha com os seus vestidinhos Prada, as suas passeatas de jeep nos montes alentejanos , os seus namorados com escritórios em Lisboa. Este eu, é o eu dela, que interessa isso ao mundo? Que me interessa a mim? E a ti? Precisarás tu de um herói?
A minha costela democrática apazigua a indignação de ver a literatura reduzida a uma comichão no umbigo e responde que é mesmo assim , a diversidade, que há gostos para tudo e cada um tem o seu, e essa parafernália de coisas banais que nada dizem senão que já não sabemos chamar os bois pelos seus nomes e dizer bem alto "Isto é lixo" e o lixo tresanda, suja, deve ser tratado e reciclado e não exibido em praça pública para fazermos uma pausa entre perfumes admitindo que o cheiro do lixo tem o seu toque de extravagância e por isso há que deixá-lo sossegadinho.
O que se passa? Confundiremos nós democracia com lixocracia? Tolerância com falta de valores? Bolas! Lembro-me da questão do Foucault: O que merece ser publicado? O que merece ser visto? Qual a diferença entre um romance do Flaubert e uma lista do Supermercado? Pelos vistos, nenhuma.
Tudo a propósito da frase que encontrei, por acaso, ao folhear o último livro da Margarida Rebelo Pinto, na Fnac. Começa assim o livro da autora mais lida deste 'piqueno' país: " Eu preciso de um herói".Fiquei imediatamente furiosa. OK, minha, tu precisas de um herói, ora bem, eu preciso de uns dinheiritos para comprar uma casa, de arranjar a canalização, de ensinar o cão a obedecer...de heróis, não muito obrigada , tenho pra troca. A seguir, interroguei-me sobre este eu, quem é este eu senão a Margaridinha com os seus vestidinhos Prada, as suas passeatas de jeep nos montes alentejanos , os seus namorados com escritórios em Lisboa. Este eu, é o eu dela, que interessa isso ao mundo? Que me interessa a mim? E a ti? Precisarás tu de um herói?
A minha costela democrática apazigua a indignação de ver a literatura reduzida a uma comichão no umbigo e responde que é mesmo assim , a diversidade, que há gostos para tudo e cada um tem o seu, e essa parafernália de coisas banais que nada dizem senão que já não sabemos chamar os bois pelos seus nomes e dizer bem alto "Isto é lixo" e o lixo tresanda, suja, deve ser tratado e reciclado e não exibido em praça pública para fazermos uma pausa entre perfumes admitindo que o cheiro do lixo tem o seu toque de extravagância e por isso há que deixá-lo sossegadinho.
O que se passa? Confundiremos nós democracia com lixocracia? Tolerância com falta de valores? Bolas! Lembro-me da questão do Foucault: O que merece ser publicado? O que merece ser visto? Qual a diferença entre um romance do Flaubert e uma lista do Supermercado? Pelos vistos, nenhuma.
6 Comments:
Post muito pertinente, manhã. A democracia tem resultados ambiguos, e dentro dessa ambiguidade, há os resultados nefastos.
Há quem diga que o lixo tem de existir para que o mesmo bom se evidencie. Mas quando o lixo é tão mau e quando a adesão é tanta que se educa um povo com lixo...
Portugal é pequenino, é mediocre...resta-nos não perder a esperança e esperar que ao mesmo tempo que há muita gente que compra livros de MRP, há também aqueles que compram livros de Focault (como eu e muito boa gente!)
PS: quem precisa de heróis é porque não acredita em si próprio? (será? é quase como que acreditar em deus...)
Olá Pé! É verdade,como é que a dita cuja vende que se farta enquanto os livro de poesia, que é do melhor que se faz em Portugal não passam da primeira edição? Bolas!!
Não ponho a coisas nesses termos, todos precisamo de heróis, aposto que também tens os teus, só que gaita, não me parece ser tarefa que mereça romance!
"herois ha mtos meu palerma!" Adaptação fácil!psicológicamente esse inicio da MRP parece-me o contrário do que parece, ela vê-se cm heroína da literatura portuguesa, diz-se a pessoa que faz ler os q não lêem! Acho que as pessoas a lêem é pq não tiveram educação literária, não sabem que há mais e melhor naquelas coisas estranhas e pesadas q são os livros. Não deixa de ser culpa propria mas que é principalmente da cultura portuguesa, é um país q se diz pequeno em q as pessoas se justificam por ser pequeno, por pensar pequeno. Tenho e de preciso ter fé naquelas q remam contra a maré e tentam criar novas marés!
Herois tenho-os, mas evito depender da esperança q eles deviam dar-me. Para não sofrer desilusões.
Balelas
Pé e Pegada
Poça eu cá tenho heróis pra dar e vender, deixo-me encantar por uma frase, um quadro,uma vida, sem um modelo pré-concebido pois tanto admiro uma mulher do campo que trabalha de sol a sol como o Visconti que era aristocrata e fazia filmes. É assim, e desta não é o vinho que fala...talvez a noite...esta altura de festas causa-me nostalgia e a nostalgia alimenta os heróis.
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