quinta-feira, maio 03, 2007

a história do peixe pato

Gustave Courbet, Cena de praia, 1870
" A praia estava deserta, o vento corria fino sobre a areia, nuvens amontoadas depressa formaram grossas massas cinzentas e colaram-se à orla do mar, levantando pequenas ondas. Não era um dia normal, áquela hora , habitualmente, não ia à praia. Pôs o cachecol ao redor da cabeça e tentou respirar fundo, as unhas raspavam pequenos grãos de cotão nos bolsos do casaco e a mão direita fechada em concha estava quente. Não, não era um dia normal, apesar de tudo parecer idêntico, o cais, o casaco castanho, os sapatos sem cor, gastos à frente, a esplanada da praia, fechada. Caminhou em direcção ao mar, queria voltar a sentir o absurdo de tudo, certificar-se que estava mesmo a sonhar e que talvez com o choque gelado da água tudo voltasse a ser o que tinha sido. Sentiu aquela sensação de calor na mão, o pequeno corpo tinha acordado e o seu movimento fazia-lhe cócegas. Cuidadosamente, tentou tirar a mão do bolso, sem quebrar nada, com infinita gentileza. O peixe pato lá estava, pequeno e triste com suas escamas pretas e seus pés de pato. O teu lugar é ali na água, aqui vais morrer, disse. O peixe pato sacudiu a cabeça e abriu os seus grandes olhos. Será? pensou. Não. Tinha de ser. Mas custava-lhe tanto. Aproximou-se da água e pousou a pequena criatura que ali ficou sem se mexer, friorenta. Vai! disse. Nada. Vai! Anda! O peixe pato abanou ligeiramente a cabeça e ali ficou.Imóvel. Então não queres mergulhar? Que queres tu de mim afinal? Silêncio. Veio uma onda e molhou-lhe os pés e ainda outra e outra e na terceira onda, mais forte ,o peixe pato cambaleou e deixou-se ir, sugado pela corrente. Espera! disse, não vás já! Tarde demais, já não descortinava as escamas pretas. Deitou-se à água, mergulhou, o mar verde, frio, verde, frio, muito frio. Onde estás? Uma onda e outra os sapatos cheios de água, tentou fincar os pés no chão, mas já estava longe e também estava bem assim..."

7 Comments:

Blogger Alberto Oliveira said...

... num último esforço, Fred consegue libertar-se dos sapatos e agora os seus movimentos estão melhor coordenados. Passa um cardume de robalos-espelhados e distingue Barbara procurando furtar-se às investidas de um tubarão almiscarado. Fred nada vigorosamente em seu auxílio, mas no caminho, Chandler sossega-o, que "está escrito no guião que Barbara casará com Fred e adoptarão um peixe pato com desvelado amor". Edward G. Robinson, escreve pelo seu punho um The End a pingar por todos os lados.

5:45 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger sobre-nada said...

Gostei, não conhecia o autor, vou procurar ;) Bj

7:28 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

legível:essa do tubarão almiscarado é au menier? ou serve-se a frio?

sobre-nada: o autor é o do quadro, o que está aí!

11:20 da manhã <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

=)

8:29 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Saxe: nunca li esta história mas só pelo que li, achei-a maravilhosa. Fiquei encantada. Vou ver se compro, parece realmente magnífico! :) Falo muito a sério (lol, mesmo). É linda a história!
Também gostei imenso da pintura.
Beijinhos da Ana Paula

4:35 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Correcção: " ...parece realmente magnífica!"

Diz-me, por favor: Gustave Courbet, autor do quadro e da história? Parece-me que sim mas se puderes confirmar-me...

4:39 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

carecone: isso quer dizer um sorriso? muito económico! outro para ti!

anna paula: O Courbet é o pintor que pintou o quadro, é um pintor magnífico! Quanto à história acho que foi escrita por mim, mas já me estás a baralhar, terá sido? Esse peixe pato tenho-o na cabeça há muitos anos, quando as minhas sobrinhas eram mais pequenas era a história que lhes contava, terei ouvido alguma história de peixe pato há muitos anos atrás? não te sei dizer, só te sei dizer que esta é minha, visto ter a certeza que a inventei na hora que lá está e nesse dia.
Um beijo, ainda bem que gostaste, bom domingo!

11:04 da manhã <$BlogCommentDelete>

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