domingo, setembro 21, 2008

O amante

Marguerite Duras,1914/1996

Tenho O Amante aberto à minha frente..."Voltamos ao apartamento dele. Somos amantes. Não podemos parar de amar." linhas, livros. na fotografia o rosto que afirma ter de repente envelhecido.dela, da personagem ou dela, quando lemos andamos à procura de qualquer coisa, farejamos, passamos à frente, voltamos atrás, escavamos além das linhas, um momento, o momento de uma frase na sua lisa exactidão, clareza, luz, esforço, presença. uma vontade apanhada a eito nas voltas de uma narrativa que corporaliza, ergue e faz tremer. esquecemos como os sentimentos são contraditórios, ambicionamos uma consistência, mas esboroam-se e retornam as convicções, quase lá, na saída do grito ou na imensa alegria, atentamente como se nada pudesse passar despercebido, um cortinado, um ruído de pássaro, um talher, pudessem decidir, transformar de repente o presente já memória, uma atenção de quem está à beira do maior pânico e da maior indiferença.
Ao ler deixo as pequenas cavidades dos meus dedos suados sobre o papel poroso...Pergunto-lhe se é costume estar-se triste como nós estamos. Ele diz que é porque fizemos amor durante o dia. Diz que é terrível depois.
de que modo podemos falar quando falamos só de sentir?


14 Comments:

Blogger Unknown said...

... de que modo podemos falar quando falamos só de sentir?
.
Com esse Outro?
Penso que nunca...
.
Escrever? o Amante. para que "outros" dedos suados procurem. esgravatando por entre as palavras o que não podia ser dito. o que talvez nem esteja escrito.
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[Beijo]
.
P.S.: Estávamos a falar do mesmo, um post atrás...

12:02 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger SMA said...

PERFEITO...
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uma das minhas divas
para sempre

bjo de bom dia

agora aqui
http://caminho-de-terra.blogspot.com/

1:29 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Clara said...

Que texto tão lindo! Há muito tempo não lia algo tão bom!

10:43 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger ~pi said...

[ sim, apesar da beleza devoradora e avassaladora que às vezes há na entrega à dor,

como na dor da autora e no tempo dessa dor... o amante,

arrastadamente arruinado de amar,
águas e águas.

eu preciso sempre de um cantinho de redenção e abrandamento.


belo, belo poema o teu texto,
vejo nele um poema! :)



~

6:56 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger mdsol said...

Gostei de ler.
:)

6:27 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

não me atrevo a responder à interpelação...

dizem-me que há uma escrita feminina. se assim é, temos aqui um (dois) exemplo(s).

beijo

10:24 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... para quando um ensaio (já ficaria satisfeito que fosse "apenas" em edição on-line, que me contento com pouco) sobre "de que modo podemos falar quando falamos só de sentir". É que este naco abriu-me o apetite...

8:31 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

.. naco de prosa, claro.

8:32 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

.
é terrificamente bela e inquietante a escrita da duras.
.

10:31 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

um ar de: quase nunca, às vezes, na poesia podemos, Duras tem assim uns cortes que nos dão um sentir sem o verbalizar ou descrecer. claro! cada um lê o seu anseio. O tempo tem tanto de leve como de pesado, pensá-lo não é boa coisa para evitar a angústia, melhor é fazer de conta que não existe.Bjo
(Filosofia?)

sma: antes não ligava, li o India song por causa do filme, mas agora este veio ter comigo e foi amor à primeira vista!
Já lá fui à tua nova casa, diferente da primeira. bjo de boa tarde.

clara: Obrigada! a leitura era inspiradora!

~pi:a dor é a dor, não há como fugir-lhe mas não se lhe pode dar muita confiança porque ela devasta.

mdsol: Ainda bem!

herético: se há uma escrita feminina e, penso que sim, distingue-se pelo olhar, um olhar virado para dentro,talvez focado no sentir. bjo

legível: o ensaio não captará a essência da coisa, talvez a poesia e eu sou demasiado preguiçosa para coisas grandes e pomposas como ensaios e assim. Gostei da chamada do acrescento, ele há por aí tantos nacos!eheh

corpo visível: terrífica, concordo.

6:27 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Já tinha lido antes o teu texto. Gostei muito, como sempre. Não podia deixar de comentar: Muito sensível e delicado! :)

A questão da palavra e do sentir, do sentir com a palavra, de usar a palavra sentindo, da impossibilidade da palavra falar do que se sente (ou da sua possibilidade)... foi excelente levares-me a reflectir sobre...

Um beijinho e uma boa semana (mesmo que com muito trabalho)!

3:14 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

ataque perguiça?
como eu te compreendo...
beijos

10:57 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

ana paula: a escrita à roda do sentimento para o transmitir quando ele é por essência anti discursivo.
sim, muito trabalho. boa semana,bjo

heretico: preguiça, falta de inspiração, talvez.

10:05 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Violeta said...

Li o livro há muitos anos. Marcou-me muito.
Gostei de o reencontrar aqui.

10:30 da tarde <$BlogCommentDelete>

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