domingo, dezembro 03, 2006

eles, os poetas

contaram-me que um dia o Herberto Helder foi visitar o Eugénio de Andrade na sua casa na Foz do Douro e deu com ele empedernido da depressão, mutilado por paixões funestas, alquebrado e taciturno de queixas e maleitas. mostrou-lhe então o que andava a escrever, o mesmo de sempre, transparências ,corpos luminosos. Dá para pensar, se a poesia era aquela fulguração repentina que vinha mesmo da verdade do ser, então o Eugénio estava a fazer batota...ou será possível ser poético sem ser autêntico?

5 Comments:

Blogger Monalisa said...

Dizem-me que o poeta trabalha sobre a palavra e não sobre o sentimento. O sujeito poético pode não corresponder ao sujeito que segura a pena e preenche o papel. Talvez seja assim, mas acredito que o olhar do poeta tem um filtro especial e que é esse que lhe permite trabalhar a palavra de uma forma especial - mesmo que o faça em diferido....acho que não fui clara...fui?

10:26 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... toda a forma de arte tem de ser trabalhada. Só?! por isso, a "fulguração repentina sofre um rude golpe. Escrever corrigir, corrigir escrever é o trabalho oficinal que não é nada poético. A poesia está na ideia e no produto final.
Isto me confessaram dois poetas com quem tive o prazer de privar e que vieram confirmar as minhas suspeitas.

PS: tenho de ver o Paris je t´aime, tá visto...

11:15 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

monalisa: sim, foste muito clara mas continuo a defender a vida, o poder de a sentir, de uma forma singular que a escrita é um reflexo, mais, uma necessidade pelo excesso contido.A técnica, sim, o Eugénio tinha-a a toda...os primeiros poemas, sim fulgurantes, para o fim cof cof repetição infinita da fórmula...

legível: De novo a forma, a técnica, certo, é importante o trabalho, mas há a fulguração, o temperamento, a vida ,a paixão, sem elas a técnica é uma retórica balofa...quem eram os poetas? já agora, pois é raça que admiro...

sim, tens de ver, urgente!

11:12 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Entre os teus lábios said...

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."

Magnífico seria se todos nós fossemos poetas e sim, escrevessemos sobre os nossos sentimentos...

10:35 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

entre os teus lábios: Claro que essa do fingidor pode surgir como resposta embora este chega a fingir que é dor a dor que deveras sente, é duvidoso, quanto a mim entre o fingir e a dor que deveras sente há só a mediação das palavras.

10:41 da manhã <$BlogCommentDelete>

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