quinta-feira, setembro 28, 2006

caminho xxl

Talvez fosse sempre dentro de mim um concerto a duas vozes. Quero escrever, dêem-me o mote para alinhar as palavras, quero falar de mim porque as conversas são sobre outra e porque converso demais sobre essa que não sou eu, tenho em mim um universo de palavras que nunca mais acaba e são sempre as mesmas palavras. Então já que essas não bastam talvez o silêncio. Um porteiro da noite com a sua tira de couro cruzada no peito, no seu antiquíssimo fato de guardião, ele e só ele deve ter a chave do enigma. O meu vestido de algodão, as minhas calças de ganga, as minhas T.shirts esvoaçam na brisa da noite, talvez seja tarde, não demais, mas tarde e não haja mistério algum, ou talvez a emergência dos factos construa por si um tal labirinto que nos soergue pelos cotovelos como uma muleta e no caminho só o tock tock das muletas no pavimento deserto. Pensar é andar em círculos, escrever coloca marcos na estrada, e, sim, parece-nos que vamos a algum lado e encontramo-nos perante a porta.Simples. Édipo terá descoberto o enigma da esfinge, mas agora somente um porteiro na noite , a vigília e a história, soma de enganos. Porque será que tinha a chave do enigma, Édipo, para consumar os enganos? Porque tinha ele só a chave do enigma e ela só abriu a porta da caixinha de Pandora…clarividência viciosa ou somente a vontade e o orgulho de ser , de querer ser contra toda a fatalidade? O que sabemos e o que pensamos saber. Nenhum prejuízo vem ao mundo, pelo contrário , do sofrimento de Édipo, só ele, dele falamos e esquecemos.

2 Comments:

Blogger Rui said...

Nem tudo o que parece é. Muitas vezes, falamos de coisas não para as libertar, antes pelo contrário.
Talvez cantar.

9:34 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

rui: Sim, porque não? Quem canta...

10:57 da manhã <$BlogCommentDelete>

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