quinta-feira, janeiro 18, 2007

bastardos e abortos

quer queiramos ou não bastardos e abortos são, a um nível imediato, duas palavras feias, palavras que causam repulsa.
Na aula, a propósito de Descartes e da forte convicção do pessoal adolescente que filósofos é corja de mal amados, sem tempo para namorar e sem grandes atractivos físicos (Descartes de facto!!!bem...) arrumei-lhes as ideias com a frase: " Consta que tinha alguns bastardos." Sururu ,risos, o "gaijo" heim, afinal tanto estudo e era um maluco! etc ...tanta doutrina e vais a ver queria era...um rol de cogitações deste calibre (mal eles sabem que este termo foi criado por causa dele! cogitações) Descartes passara rapidamente do austero filósofo ao "ganda maluco" do criador do sistema cartesiano ao prevaricador, bem...deixo...com o tempo vai assentando...
Há palavras assim que estão conotadas com coisas ruíns, monstruosidades, sinuosidades, prevaricações. Não é justo, não tem qualquer fundamento na razão ou nos valores, é um atentado ao nosso livre pensamento. Um bastardo é um filho ilegítimo, de quem o pai não quis saber, a história está cheia deles, o passado recente também...foi gerado às escondidas e nasce meio torto, segundo a moral vigente. Tal como o Bastardo o Aborto sofre do mesmo olhar enviesado. Aborto, mulher abortadora. Abortou. Aborta. A palavra lembra abertura larga de onde sai uma lava , espécie de vulcão, que expele embriões. Coisa do demónio o aborto é do domínio das trevas, escondido e envergonhada a mulher cujo segredo ninguém fala. As mulheres abortam, abstracto. Quem? Eu não!
Estas irracionalidades têm de acabar, são passado, desse passado pouco digno de orgulho. Interromper uma gravidez indesejada é um direito, fazê-lo em condições, é uma exigência de civilidade.Tenho uma forte impressão que se Descartes ouvisse isto sorria, tenho uma forte convicção de que estaria de acordo.

12 Comments:

Blogger Alberto Oliveira said...

... tu e as tuas convicções minha cara amiga virtual. Mas olha que também estou convicto que sim; que Descartes te daria uma piscadela de olho cúmplice, se lesse isto. E acrescento sem qualquer originalidade: onde estão os filósofos da actualidade? que comunicação social os convida para dissertar/escrever sobre o social sem o rótulo partidário sobre os ombros e as ideias... produzidas sob a capa de meros estatutos?
"Bastardos & Abortos" não faltam por aí. Mas não destes de que escreves. Dos outros.

4:43 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger SMA said...

Bom dia Manhã,

Fantastico... gostei muito do texto!!!

Diria mais, muitos dos movimentos pelo sim daria tudo para ter um texto desses...

Contudo digo-te e falo de quem acompanha esse drama, o aborto não vem selecionar o problema dos bastardos, infelizmente a nossa lei entra em contradição com a nossa constituição... ainda protege a hipocrita, a imagem do "Senhor de familia", passando completamente a responsabilidade à mulher.

Bj

4:23 da manhã <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

Muito boa, a teia semântica que teces!

11:56 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

Pois...

2:46 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

A discussão deste assunto, principalmente no que diz respeito às pessoas que defendem o não é totalmente falaciosa. Quando certas pessoas que defendem o não me expõe os seus argumentos só tenho vontade de lhes dizer "isso é uma falsa questão", porque na verdade é o que acho. A forma como essas pessoas olham para o aborto acenta em pilares desprovidos de sentido. Irrita-me solenemente toda esta discussão. Ponto.

2:49 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

gostei muito do texto. Tenho gostado muito de descobrir este espaço. :)
a propósito do teu comentário, o meu nome não é Madalena, mas teria gostado muito se o fosse. Gosto do poema, por isso me inspirei ñele para o meu blog. Na verdade, o meu nome é Sara. (há alguma rua com este nome? )
Um beijo e um muito obrigada pela atenção, pela presença.

4:42 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Peg solo said...

A forma como essas pessoas olham para o aborto acenta em pilares desprovidos de sentido. sublinho.
argumentos falaciosos e hipocrisia sem limites. aqueles cartazes do "nao obrigado" fazem-me uma urticária...
belo texto manhã*

12:06 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Olá legível! Boas! ainda não sei se há debates a menos ou a mais, fica a sensação de que se fala muito e não se diz nada...a filosofia precisa que a defendam sim, e que a pensem...bom fim de semana!

Olá Presença: pois é , os mesmos argumentos que se insurgem contra a despenalização favorecem a possibilidade da bastardia e "todavia porém" também a atacam...bueno...contradições... essa do senhor de família é o pai? biológico? acho toda esta quimera de família ´tradicional um pouco anacrónica, porque não pensar outras formas de família? gostei do teu comentário sobretudo na parte que disseste: fantástico texto...não sei porquê mas gostei...nem sei porquê repito...bom fim de semana e assim

e-clair: Obrigada é mesmo uma teia, às vezes acho mais carpinteirar, gosto de carpinteirar palavras umas com as outras e fazer uma mobília de sala ou quarto and so on...mas tens razão é mesmo semântica...

ó pé e não é que a mim me irrita também! não é que me tira do sério?? mas deixa para lá, é nosso dever falar destas coisas mesmo que a vontade (digo melhor o desejo) seja falar de outras...mas pelos vistos por aqui nos comentadores há unanimidade...engraçado, são as famílias...

Olá Sara,gosto em conhecer-te! porque acho bonito esta coisa de rua quieta, não sei talvez me recorde a infância . obrigada a ti pela beleza dos textos que escolhes.

olá peg...urticária é mesmo isso, há qualquer coisa que nos repugna nessa campanha, é porque a julgamos hipócrita, atrás dela estão mulheres que fazem abortos em clínicas de luxo! Há muito tempo que não te via mas sei que andas cheia de trabalho! bom trabalho!

3:41 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger SMA said...

És muito engraçada... e assim fico :-)))

Bjs carinhosos fantastica.

2:21 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

presença: ok, o meu calcanhar de Aquiles...nobody is perfect.

7:15 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger maria said...

Eu também!
:)
Descartes sorriria, pela certa!

2:34 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger * said...

vou dizer muitas coisas:
descartes foi o meu primeiro (e dos poucos) filosofos que percebi, a ligação estreita e importantíssima à matemática ainda me fez gostar mais dele, mas não foi ele que disse que "a ideia de deus é inata" numa espécie de graxa à ditadura da religião/papas? (n fosse acontecer-lhe o mesmo que ao galileu...)
se ele teve filhos bastardos ora porra o parvalhão era mas era um grande cobarde, já não bastava andar escondido nas saias de uma qq rainha madrinha :-)

és professora de filosofia! coragem qdo era aluna detestava-os!! mas estou arrependida :-( por isso perdoa a falta de atenção dos teus alunos, um dia vão dar-te o merecido valor e lembrar os teus ensinamentos :-)

concordo com o texto todo abortos e bastardos são palavras feias quase do mesmo saco, penso que uma má herança da nossa cultura judaico-cristã, ter filhos ou não ter (já para não dizer ter sexo ou não ter...) devia ser algo mais estreito à natureza e ao desejo consciente de cada um

e espinosa hem?? virgem!!!!

2:39 da tarde <$BlogCommentDelete>

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