sábado, março 24, 2007

Com sentido

Gustav Klimt, Life and death
Engraçado que a palavra "consentido" e a conjunção "com sentido" tenham não só a mesma sonoridade como parece que a primeira é formada da soma da outra. Se derivássemos um pouco poderíamos talvez supôr que consentir e dar sentido seriam semelhantes, teriam o mesmo significado. Consentir é mais permitir, admitir , aceder, revela uma espécie de abertura e de pacto com alguma coisa que se nos revela. Quando consinto deixo que...daí que dar sentido possa daqui derivar, de um consentimento, de uma permissão. Mas de quê?

Numa dessas noites por aí a cear até largas horas e a discutir...falava-se de sentimento religioso, religare, ligar a...éramos três, um de nós demarcava-se: "não, não tenho qualquer sentimento religioso", nós (em quem se vislumbrava ainda uma réstia de sentimento religioso) insistíamos que não é da ordem da argumentação essa afinidade que nos liga uns aos outros e que não há razões que a sustentem, ele insistia que não...mais à frente na discussão sobre o sentido da vida, ainda a negação, não, a vida não tem qualquer sentido. Para nós sim.

Será que a questão do sentido implica um consentimento tácito? Deixarmo-nos tomar por uma espécie de sentimento religioso que é alheio a razões? Ou será que a língua portuguesa continua a estar curiosamente estruturada nestas conotações religiosas?

9 Comments:

Blogger SMA said...

Interessante teres colocado um quadro do Klimt... hoje vi um documentario dele na 2, muito giro.

Quanto ao consentido ou/e com sentido, digo-te, estamos sempre à procura de causas lineares e nao aceitamos as causas circulares...
Por isso acho que o com sentido leva ao consentido, mas este ultimo faz-nos chegar também ao com sentido!!!
Se a palavra é uma caracteristica so humana e sendo o ser humano um ser religioso, não é normal que esta venha com influencias religiosas?!
Mesmo declarada a morte de Deus , e mesmo seja a Pessoa o seu proprio Deus (numa visão antropocentrica),contrariamente o que possa afirmar a fenomologia, não será o "acreditar em" que nos leva a esse consentimento, que por sua vez nos faz viver com sentimento?!

bjo doce

4:04 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

presença: Não diria circular, tão pouco linear, antes, e,m espiral, vamos andando em círculos mas avançando...parece-me melhor, pelo menos mais optimista.

se podemos substituir este sentimento religioso num DEus absoluto pelas pessoas? cada pessoa é sagrada é verdade, mas há pessoas que ...bem, não lhes assenta bem o qualitativo...mas de um modo geral sim, concordo.

7:05 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

gostei da ideia, não tou a ver a relação da religião com as palavras, mas tb não percebo nada dessas podas :-)

7:24 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

mo ou mónica (presumo que de deve ser a mesma pessoa senão corrige-me) de podas...disseste? tá bem, pode ser, mas com piri-piri se faz favor!

7:40 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

O último parágrafo deste teu interessante texto -onde se adivinha uma estruturação claramente filosófica, é o que mais me desperta a atenção pelas questões que levanta de modo a suscitar a continuação da discussão daquela noite, aqui, no virtual. Muito engenhoso.

De quem "se demarcava" estou próximo. Concedo (escrevo concedo e não consinto ehehehe). Mas não a ponto de argumentar que a vida não tem sentido. A vida tem sentido enquanto houver vida e enquanto existir memória dessa vida. Pela continuação da família, pela história oral ou documental. O normal?! sentido (curso) da vida, da morte e da memória, não implica um consentimento tácito. É um acontecimento natural. Tão só.
O idioma português é estruturalmente rico para se divagar criativamente sobre ele. Até descobrindo conotações religiosas na cabeça dum postulado...

7:44 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

legível: o sentido da vida não nos surge naturalmente não, é construído por nós, as experiências não têm um sentido mas vários ao longo do tempo, pois parece-me que o sentido vai mudando e vamos descobrindo outros, ou melhor, vamos ganhando maior convicção em relação ao que é fim e ao que é meio.
Parece-me óbvio que para quem tem sentimento religioso, tem um sentido e quem não tem a questão do não sentido coloca-se, assim podemos pensar que há uma relação entre o sentido, o sentir e o consentir, na medida em que o sentimento religioso é uma espécie de aceitação do que nos transcende.
Bolas! Grande discurso, só tu para me puxares pela língua!

8:15 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

ó ingrid! por amor de deus!!!

12:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Peg solo said...

acho q por mais q tentemos nao fugimos às origens q nos levam claramente para o religioso das palavras que nos circulam em forma espiralar :p

3:40 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

mo: Tá bem, por amor de quem então?

pegsolo:voltar à origem, de outra maneira, é esse o sentido do movimento em espiral, circular mas nunca o mesmo.

10:35 da manhã <$BlogCommentDelete>

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