terça-feira, abril 22, 2008

SARAMAGO


Podemos gostar ou não de Saramago, o homem é tão controverso como a escrita. As suas palavras ditas são pedradas no charco, as suas posições políticas incómodas: optou pela defesa veemente da causa palestiniana quando da sua visita a Jerusalém, escolheu viver em Espanha, permanece comunista ortodoxo quando ninguém, sobretudo os intelectuais permaneceu. Mas isso que o faz controverso é também o que o faz único e imprescindível. O que me orgulha em Saramago é a sua coerência, a sua coragem, a sua liberdade enfim,quando todos encarneiram pela postura céptica ou irónica. Admiro com avidez certas frases, como aquela que abre o livro "O ano da morte de Ricardo Reis", a totalidade da obra gigantesca que nos doou, a pertinência aguda das crónicas que fazia há uns anos para o Diário de Notícias e onde bebi ideias que são marcos na memória (não me esqueço daquela :"o verdadeiro momento do nascimento é aquele em que tomamos consciência de quem somos"). Trabalhou a língua portuguesa, engrandeceu-a , repetiu à exaustão que era a língua mais bela do mundo e, agora,ao ver no público o seu rosto macerado pela doença, eu que sou como ele, uma sentimental e o digo à boca muito pequena, não pude deixar de sofrer por antecipação de orfandade, de pura orfandade.

9 Comments:

Blogger ~pi said...

sinto

também sinto

e sempre...

por saramago.


[ por tudo...?





~

6:42 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

~pi: por tudo, por tudo o que nos faz sentir.

6:44 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Tens toda a razão, manhã! Por incómodo e radical que seja, é um grande escritor que engrandeceu a nossa língua e também o nosso pensamento, ainda que possa ter sido por oposição.

Também sou uma sentimental... e custa-me admitir o efémero, sobretudo no que é grandioso. :(

Beijinhos

1:22 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger un dress said...

volto e sim, não é fácil!! nada!

a morte

a sua evidência

a sua eminência

a ausência ~




beijO

2:05 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger mixtu said...

saramago... gosto de o ler
como politico, ou como pessoa... coloco muitas dúvidas...

mas gosto da sua escrita,

abrazos serranos

2:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Martini said...

Por acaso gosto do Saramago (acho que não é muito consensual na minha geração). Li os "clássicos" dele e fiquei-me por aí.
Há determinadas posições dele com as quais não concordo, mas nele o importante é a obra e a elevação da nossa língua, da nossa pátria.

12:39 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

muito gratificante o teu texto. com que concordo em absoluto.

conforta-me particularmente citação do "O Ano da Morte do Ricardo dos Reis", que elejo como um dos seus melhores livros...

abraço

10:32 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

. Dá um prazer imenso ver materializados os nossos pensamentosna escrita. Mesmo que a escrita seja de outros :)
Diz-me onde queres que assine, subscrevo na totalidade . A exposição espera-nos,quer ver se não a perco.

um beijinho e resto de bom domingo

3:57 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

ana paula: vou dizer um lugar comum: a pessoa vai mas a obra perdura...talvez com os anos possa ser mais apreciada.Pois, a sentimentalidade, muito feminina.Bjos

un dress:os escritores têm sempre a possibilidade de ultrapassar a morte, invejo-os profundamente.Bjo

mixtu: as suas posições políticas não são cativantes, concordo, quando de vê os rascunhos das obras percebe-se a dificuldade da escrita e a sua humanidade, fica-se a admirar mais o escritor.
Abraços lusos

martini: não é fácil, falo por mim, ler o Saramago, nunca consegui ler de fio a pavio uma obra, leio excertos. Na tua geração parece-me raro o que só te fica bem, a singularidade.

gi: temos então a mesma opinião, é verdade que essa identificação é sempre grata, e eu grata por ela que é nos dois sentidos. Bjo. Bom início de semana.

9:41 da manhã <$BlogCommentDelete>

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