o livro que ando a ler
"Em cada vida digna deste nome há sempre um momento em que se imerge numa paixão, tal como ao atirarmo-nos para as cascatas do Niagara. Naturalmente, sem bóia de salvação. Não acredito em amores que começam como um agradável passeio de Primavera, de mochila às costas e alegres canções, pela floresta raiada de sol...estás a ver, aquela exuberância de "dia de festa", que alimenta a maior parte das relações humanas na sua fase inicial...Que suspeito isso não é! A paixão nada tem de festivo. Essa força tão séria, que tanto cria como destrói o mundo, não espera resposta dos que toca, não lhes pergunta se é bom ou mau, não se preocupa minimamente com os sentimentos humanos. Dá tudo e tudo pretende: exige uma entrega sem condições, alimentada pela mesma inergia primordial da vida e da morte. Nem de outro modo se pode saber o que é paixão...e quão poucos chegam a esse ponto!"
Sándor Márai, A mulher certa, pag.227
há um perigo eminente na literatura, na grande literatura, é o de convencer-nos que é assim e não pode ser de outro modo, é dar-nos uma sensação tão verdadeira como o ar que respiramos, o vento que nos bate na cara e, no entanto, trata-se de alguém, num dia do calendário gregoriano a puxar pela imaginação ,a responder à mulher que prepara o jantar enquanto as suas vozes vão tomando forma ao bater nas teclas e se vão enovelando como espirais de fumo no éter do tempo e do espaço, incautas, até alguém as ler e compreender, suspirar de satisfação ou de inquietação.Essa arma ou bomba armadilhada aos nossos calcanhares de leitores ingénuos, essa bomba relógio chamada discurso.
6 Comments:
o deus Eros a circular por aqui...
como "energia primordial da vida e da morte", quer dizer, na lucidez de teu discurso.
...ou uma bomba de relógio presa aos calcanhares.
"chapeau"!
e
como nos alicerçamos
em frases
em livros
em autores
para justificar...tudo!
par justificar a incapacidade
de ser
de sentir!
armadilhados a gosto e preceito! ~
e como as palavras tão necessárias podem ser
"uma fonte de mal entendidos" (saint-exupéry)
a par e passo!!
beijO
não conheço
reli há pouco o memorial do convento
ler.. é companhia, normalmente não tiro conclusões para a vida...
abrazo serrano
... e ainda o hábito de julgar o escritor pela sua escrita
confundido o real e o exercício criativo
só se acredita quando se pensa como eles, aí é uma felicidade ver que alguém passou para o papel aquilo que pensamos. isto digo eu que não me convenço com facilidade nem mesmo pela mão de um grande escritor :)
Um beijo
Tens um prémio para levantar no meu canto.
herético: Eros...ele mesmo, boa noite!
~pi: não nos alicerçamos, vamo-nos alicerçando, muito melhor, não se justifica nada, não há nada para justificar, e se houvesse não é pela literatura,agora com as bombas é outra coisa, mais bomba e coisa e tal...
un dress: mas isto é impressão minha ou vocês as duas andam combinadas?! mau!
mixtu:vou tirando e pondo, conclusões...
abraço periférico
gi; já lá fui, obrigada de novo, e deixa-me pensar que ainda vou nomear os blogs apaixonantes, dá-me tempo.bjo
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