quinta-feira, maio 08, 2008

o livro que ando a ler


"Em cada vida digna deste nome há sempre um momento em que se imerge numa paixão, tal como ao atirarmo-nos para as cascatas do Niagara. Naturalmente, sem bóia de salvação. Não acredito em amores que começam como um agradável passeio de Primavera, de mochila às costas e alegres canções, pela floresta raiada de sol...estás a ver, aquela exuberância de "dia de festa", que alimenta a maior parte das relações humanas na sua fase inicial...Que suspeito isso não é! A paixão nada tem de festivo. Essa força tão séria, que tanto cria como destrói o mundo, não espera resposta dos que toca, não lhes pergunta se é bom ou mau, não se preocupa minimamente com os sentimentos humanos. Dá tudo e tudo pretende: exige uma entrega sem condições, alimentada pela mesma inergia primordial da vida e da morte. Nem de outro modo se pode saber o que é paixão...e quão poucos chegam a esse ponto!"


Sándor Márai, A mulher certa, pag.227


há um perigo eminente na literatura, na grande literatura, é o de convencer-nos que é assim e não pode ser de outro modo, é dar-nos uma sensação tão verdadeira como o ar que respiramos, o vento que nos bate na cara e, no entanto, trata-se de alguém, num dia do calendário gregoriano a puxar pela imaginação ,a responder à mulher que prepara o jantar enquanto as suas vozes vão tomando forma ao bater nas teclas e se vão enovelando como espirais de fumo no éter do tempo e do espaço, incautas, até alguém as ler e compreender, suspirar de satisfação ou de inquietação.Essa arma ou bomba armadilhada aos nossos calcanhares de leitores ingénuos, essa bomba relógio chamada discurso.

6 Comments:

Blogger Manuel Veiga said...

o deus Eros a circular por aqui...

como "energia primordial da vida e da morte", quer dizer, na lucidez de teu discurso.

...ou uma bomba de relógio presa aos calcanhares.

"chapeau"!

10:25 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger ~pi said...

e

como nos alicerçamos

em frases

em livros

em autores

para justificar...tudo!

par justificar a incapacidade

de ser

de sentir!

armadilhados a gosto e preceito! ~

3:50 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger un dress said...

e como as palavras tão necessárias podem ser

"uma fonte de mal entendidos" (saint-exupéry)

a par e passo!!






beijO

3:53 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger mixtu said...

não conheço
reli há pouco o memorial do convento
ler.. é companhia, normalmente não tiro conclusões para a vida...

abrazo serrano

5:04 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

... e ainda o hábito de julgar o escritor pela sua escrita

confundido o real e o exercício criativo

só se acredita quando se pensa como eles, aí é uma felicidade ver que alguém passou para o papel aquilo que pensamos. isto digo eu que não me convenço com facilidade nem mesmo pela mão de um grande escritor :)

Um beijo

Tens um prémio para levantar no meu canto.

12:26 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

herético: Eros...ele mesmo, boa noite!

~pi: não nos alicerçamos, vamo-nos alicerçando, muito melhor, não se justifica nada, não há nada para justificar, e se houvesse não é pela literatura,agora com as bombas é outra coisa, mais bomba e coisa e tal...

un dress: mas isto é impressão minha ou vocês as duas andam combinadas?! mau!

mixtu:vou tirando e pondo, conclusões...
abraço periférico

gi; já lá fui, obrigada de novo, e deixa-me pensar que ainda vou nomear os blogs apaixonantes, dá-me tempo.bjo

8:32 da tarde <$BlogCommentDelete>

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