domingo, setembro 11, 2005

Beleza




Afrodite, Período clássico, sec IV ac
Andava às voltas com a beleza, procurava uma imagem bela, não a fotografia mas a coisa bela,e essa procura estava difícil de concluir, isto porque agora sou uma consumidora de reproduções em terceira mão; porque há a escultura em mármore (penso, visto que os gregos as faziam habitualmente de mármore) há depois a fotografia que alguém tirou do objecto no museu, os verdes e os vermelhos sobrepõem-se à palidez do corpo representado e sujam-no e ainda há o contexto da fotografia, o museu. Posto isto, é a escultura, a primeira representação que procuro, cabe inteirinha na ideia de beleza como algo sem rosto, sem pessoa, sem história,sem sexo, sem conflito. É uma deusa, mas isso não importa porque o modelo que a inspirou seria certamente uma mulher, não uma qualquer mas A mulher, a ideia de feminino ou uma idealização do feminino e do amor (pois Afrodite é a deusa do amor) numa só forma.Estão lá as ideias, equilíbrio, serenidade, perfeição ,força e placidez e todas elas nos reenviam para outras imagens que brotam do corpo , o desejo,a vaidade, o encanto que sendo atributos de pessoas se despessoalizam e são formas da nudez. No nosso século já não é possível representar assim o corpo , não é possível porque não temos uma ideia de beleza sem que nela depositemos os conflitos que essa ideia gera em nós.Conclusão: estamos embebidos na história, na materialidade, somos irremediavelmente antropocêntricos.

13 Comments:

Blogger SalsolaKali said...

Kundera já dizia, se não me engano, qualquer coisa como isto: a beleza é um mundo perdido. Só a encontramos por acaso, onde menos esperamos encontra-la...
A beleza amorfa e sublime está em todas as pequenas coisas.
BJ SK

7:32 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Fui invadida por lixo! Tirem-me daqui!!

Salso,então está perdida ou encontra-se por todo o lado. Pensa lá e decide-te!

8:20 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

E a imagem? Emancipou-se...

8:35 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger SalsolaKali said...

Está perdida e encontra-se de vez em quando, quando menos esperamos, e normalmente onde não esperávamos encontrar... surpreendendo-nos...
Vais-me fazer desenterrar o livro, que está junto de um montão de livros, que estão dentro de uma caixa, no meio de um monte de caixas...
BJ SK

9:00 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

´Bom dia salso! Ok, já percebi, deixa lá o livro, eu cá vivo há cinco anos por aqui e ainda não desencaixotei os livros todos,mas se precisares de ajuda...bora...

Pé,é um bocadinho isso, a imagem emancipou-se , já não é uma mera representação de algo, é ela própria, por si, que tem uma natureza, bem visto!

9:45 da manhã <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

Tenho de comentar..sorry!
O conceito de beleza foi sempre uma coisa "decidida". Durante séculos foi a realeza e a igreja quem definiram os cânons do que se considerava belo. Mais tarde foi a burguesia e hoje é a moda que retira á arte a beleza pura e simples.
A tua Afrodite é bela sim, foi esculpida pelo homem (ou mulher) já cheio de conhecimentos, mas a Venus de Willendorf, do tempo da pedra lascada, tb foi bela. Segundo o teu conceito, (beleza absuluta é a isenta dos conflitos dela própria), deduzo que será então a Venus pre-historica a mais bela... Será que é? :)
Eu diria sobre o belo: existe o meu, existe o teu e existe o belo... uma questão de testosterona, dizem os sábios :)

11:05 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

T.rex, não sei porque se é uma questão de testesterona??!!...
A questão do conceito de beleza é que ele existia na Grécia antiga e existiam depois estas esculturas a repreentá-lo e hoje ele não existe e por isso é impossível representá-lo.Hipótese.

7:43 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger AlmaAzul said...

Até os gregos eram antropocêntricos... faz parte da evolução dos conceitos, partir dos conhecimentos adquiridos para novas ideias... Hoje, Afrodite seria diferente, não mais nem menos bela... são tempos diferentes, autores diferentes impossíveis.. de se comparar na generalidade, apenas pelo gosto individual. É como a minha mãe achar que ela se vestia bem à 30 anos e achar que eu agora não... são conceitos de beleza que se alteram pelo tempo... com as pessoas. A beleza não é conceito definido, nem foi, e duvido que venha a ser... O belo é algo subjectivo, toldado pelo sociedade, pela aprendizagem... Varia de indivíduo para individuo. Logo, cada um o representará da sua forma.

10:34 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

É dificil para quem quer que seja, exclamar «aquela mulher (ou homem) é bela(o)!» sem omitirmos o nosso conceito de "belo". Na actualidade, os modelos do que é belo (que hoje são "tendências"), variam com uma velocidade estonteante e procuram passar para o nosso subconsciente "aquilo que é a verdadeira beleza", aquela que devemos adquirir ou admirar. O século passado, foi o percursor (ainda que ingénuamente) da beleza que "nós pretendemos ter ou...ver".
Daí que Afrodite, tenha o meu voto. Porque foi esculpida, também segundo um padrão ou conceito de beleza pessoal, mas não tão, tão...fabricado.

12:18 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Alma azul e legível; os gregos tinham deuses antropocêntricos, é verdade, será preciso definir o conceito primeiro: antropocêntrico é a utilização do modelo humano para a compreensão de outros comportamentos, objectos, seres.A questão é que os gregos não tinham o homem como modelo para a compreensão do mundo.Não era o que o homem fazia ou era que ditava o que devia ser e ERA de facto.Havia que compreender que para cada coisa havia uma essência (uma ideia) e que as coisas eram tanto mais reais quanto estivessem longe ou perto das ideias ou essências que lhe correspondiam e que eram o modelo. Podemos dizer, com o nosso antropocentrismo que as ideias são produzidas pelos homens e que a ideia de belo é fruto daquela época e daquele homem. A verdade neste aspecto depende daquilo em que acreditamos e dos argumentos que tivermos. Porque é que ao representarem homens concretos, não evidenciavam a personalidade mas a actividade? Porque é que representam sobretudo deuses, actividades e desportos?Porque é que procuram evidenciar a essência de cada uma das actividades, (lembro-me do discóbolo)? Foi a moda deles, dirão, pois digo que procuravam um modelo fora deles próprios,e nós só nos vemos a nós e achamos que não há mais nada.

9:35 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

Os gregos de então, eram homens de muita fé (ou a procuravam afanosamente, criando/recriando um modelo à sua imagem), é um facto. Aliàs, não é por acaso que a arte sempre andou muito "de braço dado" com a arte...
Hoje, as coisas estão um pouco diferentes, diria eu, um optimista moderado nas potencialidades do homem.
Mas sei, objectivamente que não. A(s) religiosodade(s) ou se se quiser, a fé, continua a ser a bandeira sob a qual o homem argumenta desníveis sociais e matanças miseráveis. Para o bem e para o mal, a arte estará sempre presente; que é como quem diz, para "retratar" o belo e o horrível.
"E achamos que não há mais nada". Gosto do terminar deste teu comentário; marca a diferença entre o homem (ou a mulher) que talhou Afrodite e o´(a) artista plástico de hoje.

10:07 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

No primeiro parágrafo do meu comment deve em vez de "de braço dado com a rte", deve ler-se "...de braço dado com a religiosidade".

10:11 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Legível, se substituires religiosidade por crença na verdade, concordo.As crenças não têm que ser necessariamente religiosas.
Há nos gregos uma crença na verdade, uma idealização, e a beleza da arte grega expressa isso. Não podemos pensar que toda a idealização é realizada pelo homem e feita à sua semelhança, a impossibilidade de pensar a beleza hoje, deriva do facto de: ou a pensamos como criada, e tem de ter a marca esquizofrénica do criador, ou pensamos que a coisa bela (não criada) só é bela porque nós homens projectamos nela a nossa ânsia, o nosso estado de espírito, as nossas necessidades. Gira tudo à volta do umbigo.

5:16 da tarde <$BlogCommentDelete>

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