Vinho

O vinho é um dos orgulhos nacionais e o mês de Setembro o mês onde o vinho ganha vida. Os cachos de uva são apanhados, metidos em cestos (que agora são grandes vasilhas de plástico, mais leves que os tradicionais cestos de vime e que albergam mais cachos), e transportados para lagares de pedra onde são pisados ou prensados mecanicamente substituindo assim os habituais grupos de homens e mulheres que o faziam a pé descalço ,enlaçados de braços, ao ritmo de cantigas e ladaínhas. Como os bébés ficará depois longos meses adormecido até ganhar corpo e maturidade para nos incitar a degustá-lo com todo o prazer e cerimónia que um bom vinho merece.

Ontem participei neste nascimento, esmagando com amigos os cachos de uva, sentindo-os rebentar debaixo da palma do pé, aveludados e sumarentos envolvendo-me as pernas até às virilhas. Foi um ritual que cumprimos há alguns anos, desde que um amigo meu se resolveu a produzir vinho para consumo interno. No lagar revive-se todos os anos essa festa, mandam-se piadas, dança-se, tiram-se engaços com os braços cheios de mosto até ao cotovelo, depois come-se e bebe-se o vinho da colheita do ano passado, fazem-se comparações, apuram-se técnicas. O meu amigo nada percebe de vinhos mas aprendeu, é um amador como todos nós e daí talvez as palavras de Camões se adequem, "transforma-se o amador na coisa amada" e este vinho seja mesmo exemplo disso, de uma coisa amada. O ano passado perdi-me no caminho, em virtude de outros amores quiça mais emergentes que me transformaram, este ano só faltou concretizar esse acto que ficou interrompido ,o de juntar dois amores.