sexta-feira, junho 15, 2007

estar por perto

Não há como dizer o que se sente sem recorrer aos termos estafados dentro dos quais cabe um variedade infinita de significados. O "tou bem" tão na moda, resposta à pergunta: "Tás bem?" ou "tristonha" , "angustiada","leve", "pesada", ninguém responde à pergunta com um "Sinto-me alegre" como se o sentir , melhor, a sua presença, fosse da ordem do fardo, como se ele se destacasse pelo peso.Vem-me ao pensamento, peso da alma.A alegria, não se questiona, como se de um estado de transparência, plano e sem contradições se tratasse. Assim é, ou parece ser. De facto, o sentimento, ou sentir, rodeia-se de uma espiritualidade confusa, toda ela luta, transparece em nós como um ensimesmamento, um virar-se para dentro, que motiva nos outros a pergunta. "Como te sentes?" pergunta com um certo tom retórico, visto que só surge quando o outro dá mostras de sofrer , logo, sabemos antes de perguntar. Talvez seja a nossa forma de o abrir, para que deixe de sofrer, ou apenas uma boa intenção, um sinal de que estamos por perto e percebemos. É bom estar por perto. Sim. Na lonjura inquietante que o sofrimento nos impõe, compreendemos que "estar por perto" é a máxima, o possível.

11 Comments:

Blogger Gi said...

Perguntas retóricas, conversas de circunstância ... dispensam-se. Quando a preocupação é grande , qaundo o interesse pelo outro vai mais além , a presença é quanto baste. O resto sente-se pelo olhar. Preciso. Estás aí. É quanto basta. Os silêncios ganham voz e fica tudo dito.
Nos dias de hoje dizer que se está feliz é quase um atentado ... Um "estou bem" resolve a situação de uma forma airosa. Não se fica com vergonha dos sentires. Alguns de nós contentam-se com tão pouco para serem felizes. ..

Bom fim de semana

10:08 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Madame Pirulitos said...

Eu costumo pensar muito sobre a questão do ser e do ter. E isto leva-me a comparar o sentir com o ter e até com o ser, como se de uma mistura dos dois se tratasse.
O sentir é da mesma ordem lógica do ser; sentir é olhar para dentro, é uma viagem ao self, um aprofundamento do simples ter momentâneo. Mas ao mesmo tempo, o sentir é como que mais saudável do que o ser, porque não nos rotula em demasia... sentimos naquele momento mas não temos que estar assim, ou ser assim sempre.

A mim fez-me bem esta reflexão. Espero que depois de leres isto não penses: sinto-me confusa:)

11:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana M. said...

O português é um tanto dado ao pessimismo e parece que não lhe sai muito bem...dizer que está bem.
Não vivemos tempos muito auspiciosos, é certo. Mas há sempre quem esteja pior do que nós, não é verdade?
A tendência é para repararmos pouco nisso, quando uma contrariedade nos "deita abaixo".
E, já agora... que um bom fim de semana ajude a afastar melancolias!

12:25 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Bandida said...

vou pensar nisto. por perto.

depois digo.


beijo


B.
___________________

9:40 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

estar "por perto" é ainda distância.

em verdade, deixamos verdadeiramente de "estar com..."

aprecio muito os teus textos. grato.

11:16 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Peg solo said...

um bom apontamento,
estar perto de tudo resto o que talvez signifique estar longe de mim, e dessa maneira, "estar bem"...

2:18 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

gi: sim, dispensam-se as conversas, às vezes elas são tão desajeitadas, mesmo para ocupar o espaço vazio mas muitas vezes perdoa-se o facto de sermos desajeitados, dos outros também o serem. Estar feliz transparece, nem é preciso, nesses casos perguntar nada.Os sentires são universos frágeis, contraditórios. e claro, a presença, por ela própria é luminosa.
bjo
bom domingo para ti

macaso:verdade que sentir é transitório, e quando o vamos a dizer é como se as palavras mentissem sempre, nunca são capazes de o revelar, ou como se ao dizer, já não sentissemos o que dizemos.Ter este sentir dizes que não é da ordem do ser, como se o ser fosse mais fixo. às vezes somos apenas o que sentimos, e há sentimentos repetidos que se alargam no tempo e não despegam, esses serão da ordem do ser, não?

sininho (este nome terá a ver com aquela fada do Peter Pan? gosto do nome, faz-me lembrar coisas de encantar)
O facto de haver outros pior relativiza o nosso estado, dá-lhe a proporção certa,não nos levarmos muito a sério, não é para levar mesmo.
a melancolia parece surgir sempre que te deparas contigo, quando deixas de estar focada nas coisas é portanto incontornável mas obrigada pelo optimismo. Bom domingo.

bandida: então está prometido, depois dizes.
bjo

herético: é distância respeitadora, libertadora, estar com seria o melhor, mas nem sempre o melhor é possível.
Obrigada. Sê bem vindo!

peg solo: isso não é uma forma um pouco egoísta de encarar a coisa?

12:15 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana M. said...

Manhã:
Só para explicar a origem do nick:
Quando eu era jovem usei, durante muito tempo, um "pitó" no alto da cabeça, o que levava os meus amigos a chamarem-me "fada sininho". Agora já deixei para trás o penteado, mas lembrei-me da alcunha na hora de criar o blog...

Beijinho

1:13 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

sininho: obrigada pela explicação. DElicioso é transportar estas fábulas. Bjo

1:20 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Já tinha ontem lido o teu texto mas hoje voltei para o ler com mais calma. Gostei de ler sobre o que tão bem assinalas. Acho que, às vezes, as convenções e rituais sociais podem ter um sentido.
É tão bonita essa ideia do "estar por perto"...! :)
Sabes bem que "estou por perto" e acredito que tu também!
Beijinhos e bom domingo.

3:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

ana paula: obrigada pela solidariedade. Também estou por perto. Um beijo.

9:11 da tarde <$BlogCommentDelete>

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