domingo, maio 27, 2007

diferença

Violet Hopkins, El Paso, 1973
Confesso que não ia à procura de nada nessa noite. Era um desafio. Sair do meu ensimesmamento continuado.Queria analisar-me nas sensações que ia tendo, nas reacções dos outros, nas formas de discurso que passavam, na linguagem dos corpos. Uma rapariga passou com uma criança. Eram 3h da manhã, a música alta. Que faz uma criança aqui, neste local, a esta hora? Dancei. Há muito tempo não dançava. A rapariga voltou a passar, reparei que a criança coxeava, num flash de luz apercebi uma senhora, pequenina, uma anã. No meio daqueles corpos perfeitos que se mediam com os olhos. As duas iam de mão dada, a rapariga curvava-se para falar. De repente entrou por ali dentro uma humanidade surda, a música, a sedução do lugar, pareceram coisas supérfluas, meros riscos passados com uma caneta no papel, figuras planas, sem espessura.E se as leis da atracção alguma vez fossem claras, eu diria que atraente será tudo aquilo que ultrapassado o estereótipo, nos faz ver para além do que todos vêem. A surpresa de encontrar um rasgo desses no mais improvável lugar onde isso pudesse acontecer, valeu a noite.


11 Comments:

Blogger Bandida said...

estou aqui a tentar arranjar palavras que descrevam o que senti ao ler o teu texto. mas de uma coisa estou certa. garantidamente nem toda a gente viu a diferença. e foi disso que gostei. de a teres visto.

(e o texto está magnífico!)

beijo

B.
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3:48 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

A atração, ao meu ver, não tem leis! é uma dita-dura! Sei lá explicar o que acontece... Sou vítima atual desta bandida. Mas eu sempre estou a ser vítima desta tal! É algo indefinívelmente duro, forte, fechado, aberto, suave, paradoxal... mas é esta a minha visão e eu sou míope e ando cheio de nuvens aos olhos!
Beijos!

9:05 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

bandida: obrigada pelas tuas simpáticas palavras.
bjo

carecone:se estás a ser vítima da atracção das duas uma ou te deixas ir ou não.A vontade também pode ter aí um papel, ou não? Se não é terreno infinitamente perigoso!

9:53 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

rica noite :-)

11:12 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger mixtu said...

valeu a pena, onde a vontade afasta a diferença...
abrazo

3:52 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Manhã, a tua fina sensibilidade fica mais do que provada com este texto tão belo! Adorei.
E sinto contigo, esse improvável que acontece para nos dar uma outra visão da vida. Assim, o olhar fica mais amplo...
Como disse a mo: rica noite!
E eu acrescento: que noite tão rica! :) lol
Rica porque o teu olhar a enriqueceu...
Um beijinho amigo

9:58 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Peg solo said...

fantastico! pela surpresa e pelas coisas boas...

7:24 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Anonyma said...

Somos únicos.
Cada um de nós é único.
Às vezes, apenas acho que nos esquecemos disso...
Concentramo-nos tanto nas diferenças dos outros...

8:29 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger D. Maria e o Coelhinho said...

des Amor, com des Amor
se
paga!



D. MARIA

2:30 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

mo: é mesmo, ai as noites!

mixtu: diria que não a afasta mas se compraz com ela.

ana paula: tu és sempre de uma gentileza sem limites! Bjos

peg solo: é mesmo! entusiasmante, no mínimo!

anonyma: essa ideia é muito agradável e ainda por cima é verdadeira!

d.maria: Porquê? bem isso só dá pra chorar!

10:39 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Saraiva said...

Mas é preciso ter olhos para ver...para ver esse rasgo e para ser capaz de sentir essa surpresa...e também é bom saber contar isso tudo!
Só é pena que a inspiradora nunca saiba o que inspirou.

9:31 da tarde <$BlogCommentDelete>

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