quinta-feira, junho 28, 2007

Ricardo II e D.Maria II

Encenou Nuno Cardoso este Ricardo II no princípio deste Verão, ano da graça de 2007 , Shakespeare escreveu-o há 412 anos. As florestas e os castelos de Inglaterra são campos de futebol, os litigantes pelo poder, jogadores, o trono uma cadeira de praia. Só a linguagem permanece a mesma,coroa de reis, toda metáfora e vento e ousadia, no assobio e no grito, música aos ouvidos, mesmo traduzida.
"REI RICARDO — Dai-me a coroa. Primo, segurai-a. Aqui, primo. Minha mão deste lado; a vossa, no outro. Assemelha-se agora esta coroa de ouro a um poço profundo com dois baldes que em tempo diferente se enchem de água: dança no ar o vazio; o outro, no fundo, cheio de água, é invisível. O de lágrimas cheio, sou eu, que bebo as minhas dores; ascende o vosso: é todo riso e flores!

BOLINGBROKE — Pensei que resignáveis por vontade.

REI RICARDO — Sim, a coroa; não minha saudade. A glória me tirais; mas a tristeza que me é própria, terá sempre realeza."

Nós, hoje habituados à rapidez das imediatas frases e melhor vocacionados para imagens fugazes somos, esta noite, incomodados por palavras que se enternecem por si próprias, frases que se alongam, espreguiçando-se enlevadas pela sua beleza.Trata-se talvez de uma procura de poder que já não é só força mas necessidade de dizer, a tragédia em correria absoluta contra a nossa desatenção.

8 Comments:

Blogger Alberto Oliveira said...

... é a tua atenção sobre as pequenas?! coisas do quotidiano (no caso as do PODER pela pena do sempreterno Shakespeare) que me levaram a nomear-te num concurso?! que tem a importância que merece e que daqui a duas semanas mais ninguém se lembra dele. O efémero e o lúdico de mãos dadas no virtual...

2:53 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

legível:bom dia! a peça vale mesmo a pena! recomendo! mas tens de levar farnel, dura três horas e meia!Bjo

11:02 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

"mas a tristeza que me é própria, terá sempre realeza"...

ninguém foge à sua condição!...

12:33 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Olá, manhã! :)
Olha que bela sugestão! Eu gosto imenso do Shakespeare e esta versão parece ser inovadora e, ao mesmo tempo, manter a beleza e profundidade do drama.
Claro que tu cativaste para a peça com a tua reflexão e certeiras palavras! É por essas e outras que te tenho na melhor conta...!
Não estou a par do concurso, tenho andado ausente, muito trabalho e cansaço. Necessidade urgente de férias e de descanso! :) De qualquer modo, parabéns! Justa e merecida, a nomeação, de certeza!
Mas é um prazer passar de novo por aqui. Agora, já estou um bocadinho mais liberta.
Beijinhos amigos!

6:05 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

O meu genro é um homem de teatro, Respira-se teatro, vive-se o teatro transpira-se o teatro... e depois... bem depois para ele fazer teatro alguém tem que ficar com o meu neto! Conclusão, vou pouco ao teatro :(

para não estranhares adianto que a filha tem uma profissão que a obriga a ausentar-se do país com (muita) frequência.

Gostava de ver. talvez haja uma folga um dia destes .

beijinhos

10:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger mixtu said...

não vi mas o nuno é o maior, um beirão que em boa hora trocou o direito em coimbra pelo teatro académico...

abrazo europeu

10:20 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger colher de chá said...

Olá querida manhã. :) vou ter de ser sincera, fui ver esta peça, e não fiquei mesmo nada convencida com o resultado.
Não sou contra adaptações modernas de textos antigos, muito pelo contrário, aquilo que Shakespeare escreveu é intemporal.
Mas desta vez... não me agradou. São gostos, opiniões, disposições...se calhar foi o momento.
Ainda assim é bom que se façam mais sugestões destas, é bom q se vá ao teatro, é bom que se ouça e se aprenda com Shakespeare. :)

9:08 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

herético: e Shakespeare dá-nos em festim essa condição!

ana paula: acho que ainda podes ver!Agora que o trabalho abrandou! Bjos

gi: as pessoas do teatro vivem e transpiram o teatro em tudo, é verdade, não é só um trabalho é arte e dispõe de tudo. Fazes então um enorme favor à Arte por tratares os seus filhos!

mixtu: foi a primeira do nuno cardoso que vi, agora vou estar mais atenta ao seu trabalho.abraço luso

colher de chá: ora bem, tu como rapariga de teatro tens as tuas opções estéticas, quando fazemos nós próprios teatro somos críticos ferozes, famintos , exigentes. Agora que não o faço o meu nível de exigência alterou, fiquei um bocadinho mais ternurenta para com os actores e as peças. Emociona-me. Invejo também.Bjos

12:25 da tarde <$BlogCommentDelete>

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