domingo, julho 01, 2007

buracos

Sol LeWitt, 1929/2007. EUA


Há coisas que abrem um buraco no peito dos homens, um buraco onde podemos ver perfeitamente passar pessoas, carros, auto- estradas. As nuvens no céu, atravessam-no sem qualquer pudor, como se a carne fosse uma fina membrana, um recorte delimitando a figura.A verdade é que esses buracos não nos tornam invisíveis mas apenas seres trespassados, caminhando todavia, admirando-se de ter pés e pernas que se movimentam e olhos que vêem, mas há sempre um ligeiro desconforto, uma contínua corrente de ar, como se tivessemos a porta e a janela aberta e por ela passassem os pássaros, as folhas das árvores e toda uma série de coisas arrancadas ao ar. Os homens de corpo inteiro fazem obras definitivas, com gestos que cortam a eito e da sua boca saem palavras que lembram silvos. Os outros, aqueles a quem através do peito podemos perfeitamente ver o céu e a linha do horizonte ou mesmo quem vem vindo a correr e salta como acrobata pelo buraco, esses, andam no meio dos outros , a diferença achamo-la na forma como deslizam, como se não oferecessem resistência.

15 Comments:

Blogger Ana M. said...

Homens de corpo inteiro, eis o que vai sendo de cada vez mais difícil encontrar.
Os outros, cruzamo-nos com eles em toda a parte, dentro e fora de portas...

beijinho

2:33 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

já venho com o balde, a argamassa para tapar o buraco.beijo

7:38 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Bandida said...

não posso dizer unicamente que o teu texto está magnífico. não posso simplesmente dizer que vou ter que pensar (eu escrevi penar, faltou-me o S) mas é um pensar-penado, talvez. não me apetece dizer só isto do que escreveste mas decididamente não encontro as palavras.

talvez um chocolate ajude...

vou pensar nos buracos no peito.

beijo

B.
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11:21 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Eu gosto sempre de gente de "corpo inteiro"! :)
Bom texto e é muito interessante a imagem que criaste, assim como a outra.
Bjs

1:59 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

Os homens transparentes. Perdidos na multidão, raramente se dão a ver e eles próprios são cegos. Os outros vão rareando , qual bicho em risco de extinção.
Gostei dos teus "buracos" talvez porque ás vezes, só às vezes, penso que vivo dentro de um.

Beijinhos
Resto de dia feliz

12:10 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... uma tela que creio ter o óleo (ou acrílico) coberto qualquer género de orifício. Sol LeWitt é um artista plástico cuidadoso, não olha a despesas nos materiais e não é parvo a ponto de permitir que um aeroporto ou um comboio de alta velocidade lhe trespasse o peito.
Admiro pessoas assim. Comigo (e quem me dera que assim não fosse!) passa-se exactamente o contrário: uma ínfima e comum corrente de ar, atravessa-me o esqueleto sem pedir licença e deixa-me de cama uma meia-dúzia de dias...


como é bom ir filosofando por aqui...
bjs.

10:28 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

adorei :D e tu o que és?

10:48 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

pela leitura dos comentarios parece que não percebi completamente o texto: será que os homens de corpo inteiro são aqueles que têm certezas, seguros, senhores de si, corpóreos, fisicos e os outros são os sensiveis, que vagueam, etereos, transparentes?
olha explica-me!

10:51 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

ahh a imagem é bonita :D

10:52 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

sininho: os homens de corpo inteiro, sólidos são por si universalmente admirados, logo não me demoro a fazer a sua apologia, os outros os que por alguma razão se lhes pressente um buraco no peito, são esses que me fascinam por dentro deles passa a humanidade e a natureza em desalinho.Um beijo.

anónimo: venha a argamassa!

bandida: um pensar penado é assim como pensar devagarinho e remoendo os pormenores que doem. Gostei da imagem, é isso.
Preferia um gelado, nestes tempos quentes!Beijo.

ana paula: portanto nada de seres com buracos...na verdade por si não são muito atraentes mas têm um je ne sais quoi!Beijos.

gi: quem não tem buracos, um grande, vários pequenos, grandes espaços vazios por onde passa tudo sem que possamos reter esse vaivém!Beijos para ti e boa semana.

legível: Sol LeWitt morreu este ano e tem obras fantásticas apesar de ser pouco conhecido, apesar do entrançado apertado há qualquer coisa de flexível orifícios entre os cabos por onde passa o ar. Quanto a ti, só posso acrescentar que são essas correntes de ar que nos tornam permeáveis, às vezes lançam-nos na febre mas é com a febre que os milagres acontecem. Beijos.

mo: mais ou menos isso que disseste, é essa a ideia. Eu sou mais das correntes de ar, também dos seres que são trespassados porque há qualquer coisa que nos abre continuamente grandes buracos. Bom. c'est ça! beijos.

12:16 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

gostei muito do texto.

"a diferença achamo-la na forma como deslizam, como se não oferecessem resistência" é uma forma muito bonita de dizer...

4:17 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger sobre-nada said...

Andamos todos com muita corrente de ar, é da fragilidade de não se saber que roupa escolher. As estações têm estações dentro delas, quer seja o tempo ou a próxima paragem, nunca se sabe muito bem como sair a preceito.

Beijos

6:13 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

nunca tinha pensado por essa perspectiva..
buracos, é que muitas vezes nem sei se é positivo ou negativo---

abrazo europeu

2:18 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger mixtu said...

mixtu
yaya

10:45 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Passei para deixar um beijinho! :)
Prometo que vou pensar melhor na tua ideia. Talvez tenhas razão. Talvez tenham encanto. :) E eu distraída... :)

2:04 da manhã <$BlogCommentDelete>

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