buracos
Sol LeWitt, 1929/2007. EUA
Há coisas que abrem um buraco no peito dos homens, um buraco onde podemos ver perfeitamente passar pessoas, carros, auto- estradas. As nuvens no céu, atravessam-no sem qualquer pudor, como se a carne fosse uma fina membrana, um recorte delimitando a figura.A verdade é que esses buracos não nos tornam invisíveis mas apenas seres trespassados, caminhando todavia, admirando-se de ter pés e pernas que se movimentam e olhos que vêem, mas há sempre um ligeiro desconforto, uma contínua corrente de ar, como se tivessemos a porta e a janela aberta e por ela passassem os pássaros, as folhas das árvores e toda uma série de coisas arrancadas ao ar. Os homens de corpo inteiro fazem obras definitivas, com gestos que cortam a eito e da sua boca saem palavras que lembram silvos. Os outros, aqueles a quem através do peito podemos perfeitamente ver o céu e a linha do horizonte ou mesmo quem vem vindo a correr e salta como acrobata pelo buraco, esses, andam no meio dos outros , a diferença achamo-la na forma como deslizam, como se não oferecessem resistência.
15 Comments:
Homens de corpo inteiro, eis o que vai sendo de cada vez mais difícil encontrar.
Os outros, cruzamo-nos com eles em toda a parte, dentro e fora de portas...
beijinho
já venho com o balde, a argamassa para tapar o buraco.beijo
não posso dizer unicamente que o teu texto está magnífico. não posso simplesmente dizer que vou ter que pensar (eu escrevi penar, faltou-me o S) mas é um pensar-penado, talvez. não me apetece dizer só isto do que escreveste mas decididamente não encontro as palavras.
talvez um chocolate ajude...
vou pensar nos buracos no peito.
beijo
B.
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Eu gosto sempre de gente de "corpo inteiro"! :)
Bom texto e é muito interessante a imagem que criaste, assim como a outra.
Bjs
Os homens transparentes. Perdidos na multidão, raramente se dão a ver e eles próprios são cegos. Os outros vão rareando , qual bicho em risco de extinção.
Gostei dos teus "buracos" talvez porque ás vezes, só às vezes, penso que vivo dentro de um.
Beijinhos
Resto de dia feliz
... uma tela que creio ter o óleo (ou acrílico) coberto qualquer género de orifício. Sol LeWitt é um artista plástico cuidadoso, não olha a despesas nos materiais e não é parvo a ponto de permitir que um aeroporto ou um comboio de alta velocidade lhe trespasse o peito.
Admiro pessoas assim. Comigo (e quem me dera que assim não fosse!) passa-se exactamente o contrário: uma ínfima e comum corrente de ar, atravessa-me o esqueleto sem pedir licença e deixa-me de cama uma meia-dúzia de dias...
como é bom ir filosofando por aqui...
bjs.
adorei :D e tu o que és?
pela leitura dos comentarios parece que não percebi completamente o texto: será que os homens de corpo inteiro são aqueles que têm certezas, seguros, senhores de si, corpóreos, fisicos e os outros são os sensiveis, que vagueam, etereos, transparentes?
olha explica-me!
ahh a imagem é bonita :D
sininho: os homens de corpo inteiro, sólidos são por si universalmente admirados, logo não me demoro a fazer a sua apologia, os outros os que por alguma razão se lhes pressente um buraco no peito, são esses que me fascinam por dentro deles passa a humanidade e a natureza em desalinho.Um beijo.
anónimo: venha a argamassa!
bandida: um pensar penado é assim como pensar devagarinho e remoendo os pormenores que doem. Gostei da imagem, é isso.
Preferia um gelado, nestes tempos quentes!Beijo.
ana paula: portanto nada de seres com buracos...na verdade por si não são muito atraentes mas têm um je ne sais quoi!Beijos.
gi: quem não tem buracos, um grande, vários pequenos, grandes espaços vazios por onde passa tudo sem que possamos reter esse vaivém!Beijos para ti e boa semana.
legível: Sol LeWitt morreu este ano e tem obras fantásticas apesar de ser pouco conhecido, apesar do entrançado apertado há qualquer coisa de flexível orifícios entre os cabos por onde passa o ar. Quanto a ti, só posso acrescentar que são essas correntes de ar que nos tornam permeáveis, às vezes lançam-nos na febre mas é com a febre que os milagres acontecem. Beijos.
mo: mais ou menos isso que disseste, é essa a ideia. Eu sou mais das correntes de ar, também dos seres que são trespassados porque há qualquer coisa que nos abre continuamente grandes buracos. Bom. c'est ça! beijos.
gostei muito do texto.
"a diferença achamo-la na forma como deslizam, como se não oferecessem resistência" é uma forma muito bonita de dizer...
Andamos todos com muita corrente de ar, é da fragilidade de não se saber que roupa escolher. As estações têm estações dentro delas, quer seja o tempo ou a próxima paragem, nunca se sabe muito bem como sair a preceito.
Beijos
nunca tinha pensado por essa perspectiva..
buracos, é que muitas vezes nem sei se é positivo ou negativo---
abrazo europeu
mixtu
yaya
Passei para deixar um beijinho! :)
Prometo que vou pensar melhor na tua ideia. Talvez tenhas razão. Talvez tenham encanto. :) E eu distraída... :)
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