segunda-feira, outubro 01, 2007

Lisboa

Lisboa em 1983, Cais do Sodré, partida dos barcos para Almada.

Deambular por Lisboa, subir a rua do Alecrim, prédios de luxo onde outrora a muralha Fernandina da cidade. Ao cimo havia um cafézito do lado esquerdo e uns alfarrabistas do lado direito. Os prédios antigos emparedados, restaurante de luxo,farmácia e qualquer coisa em vidro e ar impecável cheia de homens de gravata, talvez uma companhia de seguros...a "Flor do Alecrim" desapareceu e o alfarrabista também. Lisboa é hoje mais moderna, mais vidro, mais Hi Tech ou como se diz daqueles lugares muito brancos e arrumados, cheios de linhas perpendiculares. Metro. Portas de abrir e fechar, rápidas. Sinto-me sitiada. Se perco o bilhete tou feita! Pessoas cheias de pressa. Lojas. Carros nas ruas. Pressa. Chego por último, a turba ganha-me em rapidez. Impressão: Lisboa perdeu definitavamente aquele ar provinciano mas acolhedor de cidade pequena. Hoje é uma cidade rápida e pouco humana, mesmo na baixa Chiado onde alguns velhos cafés ainda pontuam. Há qualquer coisa de conformado, de descaracterizado, nos hóteis e restaurantes luxuosos que pontificam. Não me confundo com o espírito saudosista mas gostaria de me surpreender com alguma beleza, algo de inesperado, nada.Lisboa está a sufocar na agressividade dos negócios, dos bancos, dos hóteis, das companhias de seguros, da economia dos meios mecânicos que nos empurram, nos formatam. Perdeu-se o vagar, a espontaneidade, a simpatia. No cinema, ninguém para nos levar ao lugar, nos corredores a apresentação dos filmes entra pelas salas dentro, o filme já começou e ninguém para fechar as portas. Eficiência no gasto de pessoal. Economia. Gastos e lucros. Ai Lisboa!

15 Comments:

Blogger mixtu said...

lisboa... que não conheço
.estou a reler lisboa do séc. XVIII em saramago, memorial do convento...

abrazo europeo

10:53 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Bandida said...

ainda assim a mais bela cidade do meu mundo.



beijo


B.

11:46 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... na "Flor" muitas vezes fiz tempo para o assalto final ao Bairro Alto e o estabelecimento foi "palco" de um post no "Fantasias", passados mais de vinte anos sobre tais digressões. A visão que hoje tenho da zona (do Cais do Sodré ao Camões) é, na minha opinião, e pese embora os modernos edifícios que foram nascendo?!, um dos exemplos de uma Lisboa de rosto permanentemente sujo e de arquitectura trapalhona, daquelas cidades a que o viajante exigente não regressará. Em Lisboa ( e não só) não se recuperam edifícios que são a marca d´água de qualquer cidade e a identidade perde-se naturalmente. Digo eu com mágoa, que abri os olhos para o mundo a partir de uma das suas sete colinas.

A imagem é do Terreiro do Paço pois são visíveis as famosas colunas a que tão misteriosamete deram sumiço, depois de iniciadas as incontornáveis obras da estação do metro daquela praça.

12:18 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana M. said...

Lisboa, vítima do passar do tempo.
Como todos nós.
Que temos tendência a reparar mais no que mudou para pior...
E eu faço mea culpa, já que sou um bom bocado saudosista.
Sinto falta de tudo isso que acabei de ler.
Provavelmente, sinto falta de mim enquanto jovem...

Um beijinho e boa noite.

1:22 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Bonito, o teu texto. De quem ama Lisboa, como eu. Tudo muda, e isso muitas vezes choca-nos. Também me entristece o que as cidades têm de violência (urbana). Adoro cidades, adoro Lisboa mas é preciso tornar as cidades mais humanas. Urgentemente!
Beijinhos

11:13 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

"Tempos Modernos", ora essa!...

Excelente texto.

12:56 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mar Arável said...

Lisboa

é nossa

o Tejo um deslumbre

11:32 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger astrid said...

manhã

vais levar a insónia para as aulas?
Eu ouvi bem?
Na verdade, topei com o Ricardo Reis lá em baixo.
E aquela coisa dos deuses, enfim!
Diz coisas manhã

bjs

10:13 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

"esta Lisboa que eu amo". Também vejo e sinto as marcas que o tempo lhe tem deixado. O descuido. Salva-se a "luz" . Aquela que se enfia nos cantos mais escuros e a ilumina, emprestando-lhe uma beleza que já quase não existe.
A suave decadência.

Conheço toda essa zona que tu falas desde garota. Lembro-me do alfarrabista e de um representante do Gazcidla (não me lembro se se escrevia assim) mesmo em frente :)

Beijinhhos

1:59 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger sobre-nada said...

Gosto de me perder em Lisboa, é um dos poucos sitios onde me sinto anónima. No Porto, no meu berço, tenho medo das vozes altas, da familiaridade forçada, em Coimbra esbarro-me em cada esquina com alguém que penso conhecer.
Gostei do teu texto, senti o teu desconsolo pelo que a cidade se tornou. Não conheci a Lisboa de que falas, mas ficou guardada.

10:36 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Anonyma said...

Lembro essa Lisboa quase como um sonho que se esfuma ao acordar...
Recordo-me de esperar ansiosamente pelo fim das refeições para poder recolher cada pedacinho de pão deixado para trás.
Ao Domingo era dia de subir o parque e dar pão aos cisnes. E que belos eram...
Faz tempo. Já faz tempo para uma cidade que perdeu os seus pequenos rituais, o seu rosto, o seu fluir... É certo que não sou sua amante, nunca o fui e creio que nunca o serei. Mas é-me cara apesar de tudo...
E odeio esta pressa que a tomou.
Uma pressa de muito mau gosto e fraco cuidado...
É o progresso dizem alguns, é o retrocesso direi eu...

4:28 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

mixtu: que tal uma visitinha?
abraço luso

bandida:será...a mais bela? Não consigo afirmar seja o que for de definitivo em relação às cidades, são todas mundos, e nesses mundos há certamente beleza e fealdade.Bjo

legível: Terreiro do Paço, claro! Fica aqui a emenda!

sininho:talvez também isso, em busca do tempo perdido, a mudança naquilo que amamos custa sempre um bocadinho!

ana paula:falta talvez vida nos centros históricos, vida de lá, não vida de passagem!Bjos

herético:é! o que tem de ser, mas podia ter de ser de um modo mais próximo!

mae arável: pois é, nossa e de quem a vai apanhando!

astrid: sim, já levei a insónia e digo-te que gostaram muito!

gi: a luz de Lisboa parece não nos desiludir nunca, não há nada que a demova e ainda bem!Bjos

sobre-nada:mulher do norte está bem de ver! também gosto do Porto mas conheço muito mal. Também sou anónima em Lisboa embora seja de cá!

anonyma: houve retrocesso, talvez na forma como se vive a cidade, à pressa, faz falta sentir que se sair à rua sentimos que hálugares onde podemos ficar a respirar a cidade com vagar, é isso.

9:12 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

ora ainda bem! pra cidade provinciana bem bastam as outras, por isso é que há lisboa :D

7:03 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

coitada da bandida n consegue abrir os olhos qdo sai de lisboa :D

7:04 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Martini said...

Well, gostei do texto mas não concordo que Lisboa seja menos humana.
Quando chego ao Chiado costumo dizer que me sinto europeia (sinto-me muito mais europeia do que portuguesa), e aí Lisboa ganhou nos últimos anos. Lisboa perde aos pontos em oferta cultural comparada com outras cidades da Europa.
Mas tem pequenos pormenores deliciosos que fazem dela qualquer coisa de especial.
Soei um pouco banal. Desculpa lá!

Beijos

3:53 da tarde <$BlogCommentDelete>

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