Luiz Pacheco
Se a memória não me falha, conheci-o, ao Luiz Pacheco, naquelas deambulações de boémia para os lados do Chiado, uns amigos, uns copos, falava sempre de forma desabrida, com os homens desinteressava-se, eram as mulheres que o punham a dizer umas coisas quase sempre despudoradas que nos deixavam sem pinga de sangue, mesmo nós que naqueles tempos não éramos facilmente dados ao pudor. Via muito mal e trajava como um mendigo, contava que vivia num quarto alugado com uma mulher e descrevia os pormenores íntimos como quem conta factos, já nós incomodados assobiávamos para o ar, alguns ainda se riam e tentavam a cumplicidade que ele depressa cortava com um dito mordaz. Poderia ser dado à pena, de tal modo parecia só e mal amanhado mas depressa percebíamos que era mesmo assim por opção, a sua linguagem arredava os mais corajosos. Li algumas das poucas coisas que escreveu, desassombradas.Talvez fosse, nessa altura pensámos que era, um escritor maldito, versão lusa ao Chiado.
10 Comments:
Apenas o vi ao vivo (se bem me lembro) uma única vez num daqueles restaurantes (A Trave) onde se iniciava a noite no Bairro Alto. A tua descrição da figura, corresponde ao que a memória me permite lembrar, pois já lá vão uns anos largos. A revolução estava fresquinha e o Pacheco era uma entre outras figuras conhecidas e outras que começavam a despontar. Provavelmente, nessa noite, Alexandre O´Neill -já muito em baixo, faria uma das suas últimas refeições em público, alguns cantores do GAC (Grupo de Acção Cultural) abancavam numa mesa próxima onde se encontravam os manos Vitorino e Janita Salomé, sendo que este tinha os favores dos olhares femininos presentes. O que me vieste lembrar à pala do Pacheco... que (pelo que conheço da parca obra e entrevistas) era um gajo que não se limitava a escrever o lado menos poético(?!) da vida. Vivi-a e fazia disso uma bandeira. Paz à sua alma.
não conheci Pacheco, mas pelo que escreves e o legível... pareceu-me, de repente... familiar...
abrazo serrano
Insolente.
Despudorado.
Imoral.
...
Ou, tão somente cru.
E talvez, às vezes, nos faça crescer vermo-nos assim...nus perante nós próprios.
um homem à frente do tempo. desgarrado, sem limites. bestial.
versão lusa. bem observado...
A arte dele foi a vida. A vida feita estória. É pena...
legivel: a trave, também lá fui. Engraçado termos frequentado os mesmos lugares...o O'neill não conheci mas tenho pena porque gosto muito da sua poesia.
mixtu: todos nós conhecemos figuras assim,desconcertantes e não alinhadas, são imprescindíveis para compreender o tempo, o nosso.
abraço meio citadino.
anonymo: também acho.
colher de chá: não sei se à frente, mais ao lado, talvez...
herético: muito luso, liso, sem água.
sobre-nada: saberia ele como seria falado e quantos o guardaram na memória? se o pressentiu morreu feliz.
Bom dia Manha,
Tão vivido mesmo que não tenha sido de tão perto...
Deixo-te esta referência de alguém que tb o sentio de perto...
http://freitasemarques2.blogspot.com/2008/01/este-homem-tem-uma-histria-c-em-casa.html
bjo doce
rebentou muros. ainda sem tijolos. aqueles que achamos que servem sempre para alguma coisa mas que não serveem para nada. só para criar véus na transparência das coisas. que o são. ou não. tanto como isso. e vale o que vale. essa é que é essa!!
beijo
B.
Claro! Também temos escritores malditos! E concordo quando alguém aqui disse: a arte dele foi a vida. Mas que vida! Difícil de digerir!
Gostei da tua memória dele. Não o conheci pessoalmente.
:) Bjs
Enviar um comentário
<< Home