segunda-feira, novembro 19, 2007

sobre sexo

Foto de Joel
" o que interessa na moral sexual é a distinção entre disposições virtuosas e viciosas." " A pessoa virtuosa é aquela que faz a escolha certa de fins" " A pessoa virtuosa deseja a pessoa que também possa amar, que queira e vá retribuir o seu desejo, e com quem possa comprometer-se."diz o Roger Scruton no Guia de Filosofia para pessoas inteligentes.


Tenho plena consciência que este post é chato, que nada há de mais chato que a virtude e que o vício é bem mais empolgante. Também me parece que a virtude é o justo meio no meio e, nesse caso, um bocadinho de vício, um viciozinho aqui e ali até é desejável, pois a santidade, é-nos completamente alheia. Posto isto, assumindo a virtude como a consciência do justo meio, o que tenho a dizer sobre sexo resume-se áquela célebre frase: "do sexo não se fala,faz-se" e acabaria aqui o discurso. mas, embora concordando, em certas circunstâncias com a frase, não a defendo em todas. O discurso sobre sexo parece-me desviado: ou moralista e intolerante ou libertário e vazio. Resolvo-me a defender o sexo como acto onde está presente o sagrado. Sim, o que é fantástico no sexo não é apenas o prazer sensível que dele deriva mas a comunhão (não a 1ª nem a 2ª, uma outra...) com o outro. A abertura a um mistério , uma celebração onde o corpo é o instrumento mas não o fim. O limite da liberdade sexual deve ser o mútuo consentimento e não qualquer regra ou norma exterior a esse consentimento, a liberdade do nosso corpo é absolutamente essencial para a nossa identidade enquanto indivíduos e para o nosso sentido de responsabilidade.

Mas o que fazemos com o nosso corpo, não o fazemos sozinhos,nem o fazemos para além da consciência, o sexo é um acto de consentimento mútuo que implica uma série de expectativas, emoções, desejos, e crenças, isto é, que implica a totalidade do nosso ser e não apenas a líbido e o corpo. Assim, falar de moral sexual tem sentido, neste aspecto de implicar uma atenção, um cuidado que se coloca em qualquer relação com o outro. Isto não quer dizer que deixe de existir liberdade ou que o sexo seja um acto inserido no contexto da constituição de família.Nada. Nada. Quer apenas dizer que não é só uma troca de fluidos, uma necessidade biológica. Nem 8 nem 80. Alguns cientistas chegaram à conclusão que a prática habitual de sexo com alguém, produz uma substância química no cérebro que nos torna dependentes dessa pessoa, fisicamente dependentes. Ora, como interpretar isto? Bem, eu diria que aquilo que aparentemente é apenas um acto de momentâneo desejo, pode ser um acto de comprometimento, portanto, não se admirem aquela coisa de: "sinto tanta falta", "morro de saudades" etc, é química. Como se primariamente os actos culturais e sociais ( o sexo é um acto social e cultural) tivessem na sua génese uma pulsão física. Acredito nisso.



14 Comments:

Blogger Martini said...

Intelectualizar sobre o sexo é um assunto muito interessante.
Não poderá a virtude tornar-se um vício!

A propósito Focault fê-lo muito bem na sua História da Sexualidade!

6:51 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Bandida said...

brilhante reflexão a tua. e a química pois. essa substância química que provoca dependência...
as escolhas certas são as que existem no momento da escolha. e podem ser tantas ao longo da vida. e todas certas. ou não.


beijo

B.

11:15 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Saraiva said...

"o sexo é um acto de consentimento mútuo que implica uma série de expectativas, emoções, desejos, e crenças, isto é, que implica a totalidade do nosso ser e não apenas a líbido e o corpo." Palavras grandes para uma realidade que, tantas vezes, pouco mais é do que uma rapidinha com 2 minutos de "preliminares"...

Não percebi bem a distinção entre "virtuosas e viciosas".

Sexo mesmo virtuoso, para moi, é dádiva, interesse e... gosto pelo vício...

12:05 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

mais que ética - a virtude e o vício! - é uma questão de estética.

5:19 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

martini: a questão da moral sexual para o autor citado alude à distinção entre sexo virtuoso, seria aquele que obedece a condições de possível compromisso e sexo vicioso o que utiliza o outro como mera mercadoria ou instrumento de satisfação que uma vez cumprida a função esgota-se aí.
Foucault não comunga desta visão, a questão é do discurso sobre o sexo estar aliado ao poder, é outra questão.não moral, pelo contrário.

bandida: nem todas são certas e muitas nem serão escolhas, teremos de concordar que muitas vezes as circunstãncias nos empurram para esta ou aquela experiência sem que haja uma intenção de escolha. brigada.bjo

e-clair: essa da rapidinha identifica-se com o bício. em boa verdade é nos antípodas dessa postura que o texto se coloca, se há uma moral sexual, uma postura virtuosa ela centra-se na comunhão e no compromisso que o acto sexual convoca. gosto pelo vício? é como te digo, um pouco de vício prepara-nos a uma certa virtude...

herético: estética? nã tou a ver.

9:03 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Anonyma said...

A moral sexual...
Moral!!!
Grumpft...palavra com tendência a despoletar-me um ataque de muito mau feitio...
Não faço ideia do que seja a "escolha certa de fins" e desconfio sempre destes postulados da felicidade fácil. A diversidade humana é de facto assombrosa e tenho muita dificuldade em impôr aos demais o que assumo como pedra basilar para mim. E, vice versa...
Diria ainda que do sexo se deve falar e falar e falar...
E, embora seja capaz de intuir essa dimensão de sagrado, parece-me que essa qualidade contribui, tanto como o seu entendimento como coisa maléfica, para um maior ruído nessa forma de entendimento.
O que a Ciência diz hoje é ainda uma amálgama de factos dispersos...
Sim, a química favorece a monogamia...Sim, a tendência é copular, copular, copular...com o maior número de parceiros...Sim, a fidelidade parece não ser uma qualidade natural...
E, parafraseando o poeta, só sei que nada sei...mesmo.
Apenas posso dizer que hoje, depois de muitos passos perdidos, sei um pouco mais do que ontem...
Sei que hoje entendo o sexo como uma forma de diálogo única com a criatura que povoa as minhas noites e os meus dias.
Sei que para algumas palavras desse discurso nunca haverá verbos suficientes para as transpôr.
E sei que um ser não pode viver a história de outro.

9:35 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:06 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

(costumo dar erros por escrever depressa mas os que aqui tinha deixado era demasiados ... tive que apagar a mensagem nem eu a percebia :) )

Bom dizia eu que

Entre aquilo que faço e aquilo que penso vai uma distância abismal. Na 1ª prevalece a educação que recebi, a moral que me foi incutida. A moral dos homens e da igreja, na 2ª aquilo que eu considero na realidade a liberdade, aquiloq ue aprendi a respeitar na minha vida. A vontade e o desejo dos outros.
A forma como colocas a questão "implica a totalidade do nosso ser e não apenas a líbido e o corpo. Assim, falar de moral sexual tem sentido" tem implicito o amor e sexo ... não é , ou não é só isso. É desejo mesmo. Se os dois juntos a mistura pode ser (é-o) explosiva mas sem um deles não pode ser bom também? Que moral , eu, ser imperfeito, tenho para julgar a moralidade dos outros ?Sexo é a coisa mais natural do mundo , sem ele nem existia a humanidade e, só Adão ao comer a maça o tornou pecado. Achas que Adão amava Eva? Ou só a desejava?

Devo ser viciada na virtude ou então uma viciada virtuosa ...

Um beijo e um sorriso, até me apetece acabar com uma frase que dizes. Sexo não se fala, faz-se :)

7:14 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

não estás a ver? oh oh...

então os grandes "amadores" da História (Messalina, D. Juan, Lucrécia Bórgia, Sade, etc.? não "encenavam" o acto amoroso?

9:39 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger SMA said...

Bom dia Manhã,


Que bom voltar ao teu blog e encontrar um post “sobre sexo”.
Começo por dizer, que gosto de sexo. O que será completamente normal se tivermos em consideração que o ser Pessoa passa pelo ser um ser sexuado, logo respiramos e transpiramos sexo. Virtuoso ou Vicioso, não deixa de ser sexo!
Compreendo quando se diz que o sexo Virtuoso com um q.b de vicioso (o que eu chamo de um piquinho de azedo) é estar no paraíso. E se falamos do paraíso leva-nos a pensar em Adão e Eva, e aqui cuidado! O pecado original nada tem a ver com sexo, ao contrário do que nos é passado culturalmente, o que demonstra a nossa ignorância teológica. Este erro de interpretação simplesmente ajudou ao recalcamento e a fragmentação da sexualidade como parte integrante do Eu. Erro que levou que fizéssemos desta parte um tabu, um “Xuuum! Não fales de coisas feias!”.
O que eu posso acrescentar a esta reflexão como profissional nesta área é que a maior parte das disfunções psicológicas têm uma origem sexo-afectiva! Porquê? Qual é a nossa contribuição para tal problemática, como indivíduos construtores de sociedades?

Quando li a citação de Roger Scruton, lembrei-me rapidamente desta frase “Os homens aprendem amar quem desejam! As mulheres aprendam desejar quem amam” no filme "Sex, Lies, and Videotape", filme que eu recomendo! Não concordando em absoluto com esta frase, por causa desta tão rija divisão entre homens e mulheres, diria que ela define bem essa linha tão ténue entre as pessoas que têm um comportamento sexual virtuoso ou vicioso. Se o sexo se torna mais apelativo com esta dose de vício, como uma atracção pelo abismo, pelo desconhecido, para aquilo que já não posso controlar, este também leva a perda da minha liberdade, de mim. Por isso e como diz o povo o caminho do meio é o melhor e não tem que ser propriamente o caminho da virtude. E esse caminho para mim é o caminho de duas forças com dois sentidos. Um sentido cada vez mais intrínseco e cada vez mais extrínseco, isto é, numa constante descoberta do outro, numa descoberta de mim e em mim, não sendo tudo isto encarnado num corpo.

12:17 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Isto é um tema inesgotável! Portanto, há que dar um pouco de ordem às ideias.

Tentei...é quase impossível. É um tema com uma série de mal-entendidos pelo meio.
Tens a minha admiração não só por o focares como por trazeres o Roger Scruton para o debate.

Quanto à tal substância química...acho que é a occitocina, segundo consta, a hormona do amor.
Como conciliá-la com a adrenalina, a tal que faz nascer a paixão?
Resumindo: certo... certo é que tudo tem a ver com química. Quanto a isso, não duvido.
Beijinhos! :)

12:59 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

anonyma:a dimensão do sagrado traz ruído de fundo? talvez tenhas razão, mas não está ela presente em certos actos? Não é ela uma dimensão da nossa vida? Quando dizes que não tens palavras não estarás de outra forma a referir-te a essa dimensão?

gi: eu não sei o que pensam e sentem as personagens da Bíblia mas tudo indica que Adão era com Eva. Amor e desejo, só encontro no Cântico Dos Cânticos, o Salomão.Pois que essa de ser viciada na virtude tem graça!

herético: nada sei desses senhores que são uns mal comportados!

presença: com que então piquinho de azedo? tá muito bem, desde que não azede...ehehe

ana paula: eu não digo que seja tudo química, nã, acho que para haver química tem que haver primeiro intenção de voto, isto é qualquer coisa a nível do desejo.

10:41 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Cristina Caetano said...

E quando será o momento em que fazemos a escolha certa? Eu não sei. Acredito que a tal química existe e talvez, sem muita certeza, estou tentada a afirmar que é ela que nos leva a termos um momento bonito, que vai além da necessidade comprovadamente biológica.
Beijinho

12:30 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

a imagem é horrivel.

mas o que dizes em letras pequeninas estou quase 100% de acordo

6:02 da tarde <$BlogCommentDelete>

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