sábado, janeiro 07, 2006

Literatura

" Viviam juntos desde o primeiro momento, como os gémeos idênticos no útero da mãe. Não era necessário 'travar amizade', como faziam os rapazes da mesma idade, com rituais solenes e ridículos e com uma paixão pretensiosa, tal como o desejo surge entre pessoas de uma forma inconsciente e desfigurada, quando alguém, pela primeira vez, quer separar do mundo o corpo e a alma de outra pessoa, para a possuir de uma maneira exclusiva. É esse o sentido do amor e da amizade. A amizade deles era tão séria e silenciosa, como todos os grandes sentimentos que duram uma vida inteira.E tal como todos os grandes sentimentos,continha também um certo pudor e sentimento de culpa.Uma pessoa não pode apropriar-se impunemente de outra, separando-a das restantes."

Sándor Márai, "As velas ardem até ao fim",pag 29
Quando lemos , andamos um pouco à procura de uma formulação convincente para as nossas intuições . A boa literatura não nos dá só segurança, de que aquilo que sentimos já foi sentido por outros e daí sentirmo-nos menos sós, confere também seriedade e força aos nossos sentimentos, muitas vezes abalados por experiências negativas ou contrárias do que acreditamos.Esta comunhão entre o que lemos e a nossa mais íntima e inconfessável forma de sentir, não muda nada, mas reconforta, apazigua, e isso vale por si sem precisar de mais justificações.

10 Comments:

Blogger Mónica said...

tens toda a razão!
pior é quando esse "encontro" não é na literatura mas num blog!
o resto é silêncio
(acho que NADA se sustem no silêncio)

12:34 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger SalsolaKali said...

Mas o amor (e dentro dele reside também a amizade) é assim mesmo: "separar do mundo o corpo e a alma de outra pessoa, para a possuir de uma maneira exclusiva", porque é uma e só a reciprocidade, o entendimento, a cumplicidade...
Só não entendo o pudor, que tb sinto de quando em vez, e o sentimento de culpa...
Bom fim-de-semana.
BJ SK

12:37 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

É verdade, é como uma identificação que nos oferece uma espécie de segurança, que nos dá alento para acreditarmos no que sentimos pelos outros, mesmo que por vezes pareça que não faz sentido.

1:45 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

sem cantigas: essas paixões por blogistas...o resto é silêncio???não me parece...

salso: pois o pudor é essencial, não fora o Márai a dizer e já eu me punha em bicos de pés a gritar!

Ó pé mas tudo o que nos acontece e que sentimos faz sentido, tudinho!!!

2:24 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... e entra o bacocus linguisticus pela direita baixa retorquindo à deixa:

- A aproprição indevida de outrém, pode constituir crime grave, punível com uma condenação que pode ir da "impossibilidade de poder apaixonar-se durante dois anos" até à pena máxima de "vinte anos impedido de namorar"!

O pano não cai de imediato, par não despentear o actor...

4:12 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

manhã: ai é?
às vezes desconfio...

6:25 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

legível: E pela boca de cena entra o "pela boca morre o peixe" que retorquiu:" Essa pena é extensível a todos os que deixam pombos, pianistas e outras aves de arribação entrar pela casa dentro " Tenho dito e o público aplaude de pé.

pé:rapariga desconfiada...né?

6:58 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger  said...

Desconfiada? Não sei...talvez!

Não vou para longe, estou sempre por perto, no worry!

12:35 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Mónica said...

é silêncio é
(só me ouves a mim é ou não é?)
esquece foi um desabafo
já agora, gosto dos teus comentários, da tua interpretação, dos teus choques electricos!
sem ginjas nem ginjos
mando-te um beijo por só tu teres percebido o trocadilho!

9:17 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

pé: ora aí está, gosto disso!

semcantigas: Como assim só te oiço a ti? Brigada, também gosto dos teus desafios.

10:40 da tarde <$BlogCommentDelete>

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