sexta-feira, julho 20, 2007

esperança

Esta rua é a de uma aldeia portuguesa, não há ninguém, mas podia haver perfeitamente, podia mas não há. Há só portas, janelas, empedrado, muro.
Arrisco na esperança. Mete-se pelos olhos adentro que é preferível. Arrisco o preferível, e sei que estou a arriscar.Só não sei se a esperança é da ordem da vontade e ,portanto, da escolha ou se é da ordem do ser. Quem tem esperança somos nós os seres racionais, situamo-la como um valor, daí o ter ou não, claro que a esperança é um valor positivo e a desesperança negativo mas é mais que um valor, é uma forma do ser se manifestar, sendo que desesperar envolve também ele uma forma de ser, logo, abrange tudo, não só o facto sobre o qual podemos ou não ter esperança. Não a podemos, contudo, afastar dos factos visto que são eles, na sua sucessão que nos alimentam ou não a esperança, sendo que graças a eles podemos cair na desesperança.
Hoje há uma mania insidiosa de atribuir à subjectividade todo o valor. Discordo. Se Sísifo pode ou não ser feliz ao empurrar a pedra eternamente para o cimo da montanha, nada tira à sua situação miserável e desesperante. Ora...não digo mais, porque seja qual for a nossa capacidade de ter esperança, ela por si não é infinita e se o for contra todos os factos então somos burros e entre ser feliz e burro ou desesperado e lúcido...arriscar a esperança mesmo contra os factos é nobre se e só se não implicar ignorância ou vontade de ignorar, daí ser uma atitude que comporta um risco, e que não o pode ignorar.

11 Comments:

Blogger o Reverso said...

gostei do comentário que deixaste no herético.
estou contigo.
gostei também deste teu texto, a forma como entra e onde vai ter.

2:17 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger o Reverso said...

e gosto da calma de ruas sem ninguém, quando sei que lá dentro (das casas) há gente.

2:20 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Ana Paula Sena said...

Incrível, a rua sem gente... Ao mesmo tempo, parece um oásis.
Quanto ao texto, profundo, concordo. Manter a esperança sem ignorar, consciente e lúcida, é o mais difícil mas também a única opção para quem não quer colocar a cabeça debaixo da terra, como as avestruzes. É difícil mas, por vezes,possível.
Beijos! :)

3:27 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger P said...

Excelente reflexão.
Gostei de andar por aqui neste blog.

1:55 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Monalisa said...

A esperança fica mais curta à medida que tempo passa...

2:18 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger sobre-nada said...

"arriscar a esperança mesmo contra os factos é nobre se e só se não implicar ignorância ou vontade de ignorar, daí ser uma atitude que comporta um risco, e que não o pode ignorar." e quando se faz isso durante muito, muito tempo, ficamos riscados por dentro e por fora..valemos depois menos que um veículo em 3ª mão.

bj

12:49 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... esperança
é tudo o que me resta
da promessa que já cansa.

e àquele que a tal se presta
(prometer impossíveis paraísos)
deviam ser cortados cerces os sorrisos
ademanes e falinhas mansas.

oh! sísifo meu ganda tarado!!
tu é que não te cansas...
a rolar o pedragulho que é teu fado.

havias de viver aqui com a gente
do desenrascanço e rápido ardil
debaixo do mesmo tecto

com a pedra, serias construtor civil
ou quem sabe até se arquitecto.


beijos.

6:13 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

triliti star: ainda bem que gostas, também de ruas solitárias, não de aldeias abandonadas.que me inspiram e assim.

ana paula: tudo menos meter a cabeça debaixo de terra. nas touradas são os forcados que são mais aplaudidos, por isto, por arriscar a esperança. mas também as touradas...olha esquece as touradas, mas os forcados ...não esqueças os forcados...bjo

baudolino: ainda bem, podes andar à vontade que a casa é tua!

mona lisa: discordo, absolutamente.o tempo só dá à esperança mais força!

sobre-nada: arriscaria dizer que se trata de um veículo com um uso superior na navegação, sem GPs, só intuição...devaneio meu se calhar!

legível: nã perdeste a veia! diria que com uma veia assim até o manjerico vira jasmim! continua! qualquer dia rimas em latim!

11:43 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Manuel Veiga said...

a esperança constrói-se. lucidamente. tens razão.

não é exercício solitário, o exercicio da esperança.

... e por vezes (des)espero ainda!

gostei muito

12:42 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger António Miguel Miranda said...

Divulgação

Mais um Blog que se tornou um Livro!

www.camaradachoco.blogspot.com

6:36 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Gi said...

Vem uma pessoa de férias ainda com a casa em estado de sítio, acha que pode escrever quaqluer coisa que pareça minimamente inteligente já que sente que deixou os neurónios ainda em (merecido) respouso. Começa-se a formar uma ideia do que vai escrever e começa a dar uma vista de olhos pelos comentários. Pára no senhor "Legível" e de repente não consegue fazer mais nada se não rir. Que fazer nestas circunstâncias? Voltar não é? :)

A esperança é a última a morrer
e mesmo correndo o risco de passar por naif quero prolongar esse estado de criança que ainda há em mim . A capacidade de acreditar.

Um beijo. Ate amanhã Manhã :)

10:02 da tarde <$BlogCommentDelete>

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