sexta-feira, maio 26, 2006


Rembrant, pormenor
O'Neill , em Um Adeus português

" Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia a dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à virgula maníaca
do modo funcionário de viver."

O modo funcionário de viver, ainda, cada vez mais, esta terra é a dos poetas e a dos funcionários e, de quando em vez em pleno anacrónico, o poeta/ funcionário. Este que fala do alto da sua sublimidade...este modo funcionário de viver...é assim, foi assim, um poeta funcionário e, ao andar no metro, as meias cheias de malhas nas pernas grossas de algumas mulheres carregadas de sacos plásticos, o olhar sonâmbulo que ao fim da tarde carregamos nós os funcionários do estado, nós os que somos responsáveis pela provável banca- rota das contas, a reforma adiada até à idade da velhice decrépita, o avaro olhar do funcionário no descanso, esse modo funcionário de viver, em frente à televisão a descascar laranjas com pantufas, ou a descascar pantufas com laranjas, não sei já bem e também não muda nada, esse modo roedor de tecer os dias em torno de nada, umas facturitas, até à hora do almoço...
hoje entrou-me na pele, como uma escavadora , uma retro-escavadora ,compreendi no meio do ruído infernal, que sou também funcionária do estado, desse curioso eu colectivo que se desfaz em justificações.É suposto um funcionário indignar-se? Terá ainda, depois de tanto açoite, ganas para fazer aquele gesto do Zé povinho? Arregaço as mangas?
Não, vou apanhar as cascas da laranja do chão! Sim as cascas da laranja...

7 Comments:

Blogger manu said...

este post é dedicado akele senhor das barbas, deputado e um bocadinho arrogante, ke gosta ke lhe chamem poeta?

8:09 da manhã <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... é assim que as coisas funcionam; como descreves. A revolta ou indignação já não é revolta ou indignação porque sustendada na funcionalidade do estado democrático. Antes, a revolta ou a indignação era proibida. Ponto parágrafo. Hoje sim; preenchemos uns formulários e entregamo-los na repartição adequada a uma funcionária de semblante carregado. Informa-nos que dentro de um mês (se tudo correr bem... )é dado provimento ao pedido e então podemos dar largas à nossa revolta ou indignação. Por essa altura já nos esquecemos porque nos queríamos revoltar ou indignar. É que todos os dias há motivos para nos revoltarmos ou nos indignarmos...

5:51 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger Alberto Oliveira said...

... de tão indignado que estava (agora estou bem... pior... ) as gralhas surgiram:

...indignação porque sustentada...

... a revolta ou indignação eram proíbidas...

Assim é que está certo.

5:57 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

manu: O Manuel Alegre? Pode ser, porque não?

legível: Não há nada que chegue a uma boa revolta, uma revolta a sério, assim tipo...perdida por cem perdida por mil! Mas revoltar-mo-nos para termos a reforma mais cedo? Isso é como se o Che Guevara reinvindicasse a entrada num lar! Sheeee

10:02 da tarde <$BlogCommentDelete>
Blogger manhã said...

Errata: Agora sou eu com as gralhas:
REVOLTARMO-NOS! é assim, não me estava a soar bem!

10:04 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

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3:14 da tarde <$BlogCommentDelete>
Anonymous Anónimo said...

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7:36 da tarde <$BlogCommentDelete>

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