segunda-feira, junho 20, 2005

Despeço-me

Despeço-me deste blog, para todos os que cá vieram beijos de agradecimento, eu cá vou dedicar-me a outras tarefas, ou melhor dizendo e citando o poeta, eu vou com os pássaros.

quarta-feira, junho 15, 2005

Percorremos com os olhos o mundo sem sair de casa, conhecemos pessoas sem nunca lhes ter falado ou apertado a mão,somos testemunhas de massacres e injustiças porque nos contam e mostram, sabemos os acontecimentos que nos querem mostrar ou que acham dever sabermos. Sentados ou de pé vemos. Trocamos, às vezes, impressões, insurgimo-nos. Trocamos a cadeira e vamos à próxima refeição, pensamos no segredo dos pássaros, no segredo do outro, no modo como acabar o trabalho para ter algum tempo livre.Falamos Hei, tu aí, ao telemóvel, desligamos,vamos dormir. Estas mãos, esta voz, por onde seguir reagindo, qual o espaço para dizer depois de tanto ser dito?

segunda-feira, junho 13, 2005

À poesia de Eugénio de Andrade e à coragem de Álvaro Cunhal

Trouxeram agora a notícia de uma múltipla morte , no fundo apenas dois homens que morreram simultaneamente, velhos, esgotando lentamente, num fôlego profundo, o oxigénio que nos permite a todos respirar melhor.A sua morte simultânea tem um quê de simbólico e trágico, afigura-se-nos como o virar da página de Portugal e deste século, o fim de uma geração de homens que acreditavam na partilha, no solidário, nas palavras e nos grandes sentimentos, esses que não têm fronteiras nem tempo.Um poeta e um político, Eugénio de Andrade e Álvaro Cunhal. Vivi com eles, ao seu lado, em vários momentos me iluminaram, me fizeram pensar e confiar um pouco mais na infinita possibilidade que a cada um de nós cabe de mudar o curso das coisas com a força e a clareza das nossas ideias. Atiro-me aos livros do Eugénio,tiro-os da estante antes que o vento do tempo esgotado pelo corpo os leve mas não devo temer, estas palavras ficam, ficarão, não há morte que as apague. Aqui estão e para sempre.


"Urgentemente
.
É urgente o amor
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer."

Eugénio de Andrade, Até amanhã, 1951

terça-feira, junho 07, 2005

Sedução


"Lady Eve" Preston Sturges, 1941, USA
Mais um filme precioso. A rapariga sentada no banco é a Barbara Stanwick, arquétipo da mulher fatal que anda à caça de marido rico e que se deixa apanhar na teia que monta, de caçadora passa a caçada, é que ela só quer a carteira dele, mas ele acaba por roubar-lhe bem mais precioso, o coração. Este caçador (Henri Fonda)começa por só caçar borboletas, tímido e filho de um rico produtor de cervejas é o alvo ideal para ser ludibriado pelos seus encantos , percebe muito de borboletas mas de mulheres , zero. Ela deixa o sapato no salão de baile...distraidamente... ele, qual cavaleiro andante,não tem outro remédio senão bater-lhe à porta do camarote para devolvê-lo . Não sabemos se foi o encanto das sereias que tantos tem perdido, ou se foi apenas o mar enrolando nas suas ondas, pois tudo se passa num barco, ou se os contrários se atraiem e quiça se completam, seja o que for, o fim é mesmo de véu e grinalda,e aquilo que parecia ser uma comédia de enganos, continua a ser mas com lagriminha ao canto do olho! Viva o romance!