quarta-feira, outubro 26, 2005



Number 31, 1950 - Jackson Pollock, Wyoming, 1912/1956
Há qualquer coisa de semelhante entre um quadro de Pollock, uma constelação, o interior do cérebro, o intrincado jogo das células, o genoma, os movimentos sísmicos e a forma como sentimos ao entrar numa noite escura. Um desenho infantil, a expressão da loucura ou mesmo por simetria aquilo que são as possibilidades aleatórias do acaso cabem aqui. Pode-se passear na tela, do princípio ao fim ainda vão uns 7 passos, e para ser completamente abarcado pela visão é preciso distanciar -nos para aí uns 10 m ou mais. Metáfora de que só se vê realmente quando respeitamos as distâncias ? Que ver de muito perto atrapalha a visão do conjunto? Nunca o vi . Não tenho o prazer de o conhecer, só assim em diferido, mas sei que existe e está lá à minha espera.

quinta-feira, outubro 20, 2005

A Arte e a Política

Confesso que me repugna ver a Katia Guerreiro sentada ao lado do Cavaco Silva. Confesso que tento descortinar as razões pelas quais uma artista que admiro , pelo dom de cantar bem o fado, pela escolha do repertório, pela forma comedida como se apresenta, e pela entrega que faz do seu talento...(estas são algumas razões objectivas pelas quais gosto da Katia Guerreiro, outras são mesmo de gosto/sensação e ,como tal, subjectivas) como pode sentar-se, seguir, votar e representar um homem como o Cavaco Silva?O professor Cavaco é homem honesto,íntegro etc. mas é um pouco como o Salazar, merceeiro, bem intencionado(do Salazar não digo o mesmo) mas merceeiro, poderia estar no negócio dos bidés, ao invés é professor e foi...imagine-se, primeiro ministro. Não. recuso-me a aceitar, mas tenho de render-me à evidência, a não ser que tal como em "Sonho de uma noite de Verão" a Katia tenha bebido uma poção mágica e o burro lhe pareça um Deus!! Será?? Não. Poderei continuar a admirar a arte da Katia esquecendo este pormenor escabroso de que ela é politicamente mentecapta?Estarei a ser radical? Poderá a arte ser julgada independentemente da política? Sim, sim, claro, tantos erros foram cometidos por julgar ideologicamente a arte...não vou fazer o mesmo, seria demagogia barata...mas a sensação de desconforto está definitivamente instalada.

segunda-feira, outubro 17, 2005



Paul Cezanne, 1839/1906, Aix-en-Provence
Maçãs e romãs, Cezanne pintava maçãs semelhantes a romãs no seu olhar sobre o que via nesses campos a perder de vista .Cezanne pintava o que via, não o que degustava, penso eu que não conhecia Cezanne, mas como podemos pintar o que degustamos? Digo-te "Esta romã é muito doce" "O Outono tem uma luz especial" "O Benfica ganhou ao Porto" .A nódoa da romã deixou uma mancha vermelha na toalha de linho, semelhante à mancha vermelha no lençol...as associações que fazemos ...e as palavras onde se situam depois de ditas?Que querem elas contar? Certamente que tudo isto quer dizer alguma coisa para além do que se diz. E as maçãs/romãs do Cezanne ? Que via ele? Que vejo eu? Que vejo eu que ele não via?

sexta-feira, outubro 14, 2005

DISTANCIA JUSTA

"En el amor, y en el boxeo
todo es cuestión de distancia
Si te acercas demasiado me excito
me asusto
me obnubilo digo tonterías
me echo a temblar
pero si estás lejos
sufro entristezco
me desvelo
y escribo poemas."

"Otra vez eros" 1994

Cristina Peri Rossi, Uruguai, 1941

terça-feira, outubro 11, 2005

" Ansiedade, Ansiedade
nenhum pecado cometido
e este desejo negro
emergente
brutal
de ser absolvido."

quinta-feira, outubro 06, 2005

" E queriam tocar tudo, as minhas mãos.Nunca, na luz primeira da manhã, tocaste o granito de uma igreja?...Refresca a alma, não sabeis...Refresca a alma o seu grão duro, que é tez de arcanjos e profetas..."

António Patrício, D. João e a Máscara, 1924

Essa coisa nenhuma que se instala, esse tributo que nos esquecemos de pagar, a jóia rara desfeita em absinto, brilhando sincero no seu ofegante cavalgar o tempo , a segurar-nos na mão e a caminhar connosco em bicos de pés pela beira da noite.Nunca o beijaste,o mármore frio das Igrejas? Refresca a alma.Refresca a alma.

terça-feira, outubro 04, 2005




Alain Resnais,1956
Encomenda feita a Resnais pela "Comissão de História da Deportação" com texto do escritor Jean Cayrol que esteve internado em Mathausen de onde saiu com "Poèmes de la nuit et du brouillard" este é um documentário (o primeiro a ser realizado) sobre os campos de concentração nazi. Documentos filmados pelos aliados, filmes polacos, obras de arquivo alemãs. Um filme onde o terror mais desbragado e a história, real, pura e dura andam lado a lado.Absoluto e único.

domingo, outubro 02, 2005

Clap Clap Clap



Katia Guerreiro
Ontem à noite no Centro Cultural de Belém. Fantástico!!Ao som desta voz é a nossa alma, a alma portuguesa, que aplaude de pé!
Nós, o fado, encontramo-nos mais tarde ou mais cedo , é assim.
" Tenho um amor.Que não posso confessar.Mas posso chorar. Amor Pecado.Amor de Amor.Amor de Mel,Amor de Flor. Amor de Fel,Amor maior.Amor Amado." Amália