O amante
Tenho O Amante aberto à minha frente..."Voltamos ao apartamento dele. Somos amantes. Não podemos parar de amar." linhas, livros. na fotografia o rosto que afirma ter de repente envelhecido.dela, da personagem ou dela, quando lemos andamos à procura de qualquer coisa, farejamos, passamos à frente, voltamos atrás, escavamos além das linhas, um momento, o momento de uma frase na sua lisa exactidão, clareza, luz, esforço, presença. uma vontade apanhada a eito nas voltas de uma narrativa que corporaliza, ergue e faz tremer. esquecemos como os sentimentos são contraditórios, ambicionamos uma consistência, mas esboroam-se e retornam as convicções, quase lá, na saída do grito ou na imensa alegria, atentamente como se nada pudesse passar despercebido, um cortinado, um ruído de pássaro, um talher, pudessem decidir, transformar de repente o presente já memória, uma atenção de quem está à beira do maior pânico e da maior indiferença.
Ao ler deixo as pequenas cavidades dos meus dedos suados sobre o papel poroso...Pergunto-lhe se é costume estar-se triste como nós estamos. Ele diz que é porque fizemos amor durante o dia. Diz que é terrível depois.de que modo podemos falar quando falamos só de sentir?