malabarismo
Admito que somos hoje mais complexos do que éramos, ou melhor, temos uma consciência carregadinha de conceitos e valores que se guerreiam e discutem contribuindo para uma visão mais rica sobre nós próprios, uma visão cheiinha de possibilidades. precisamos de árduo trabalho para ordenar todas essas vontades talvez porque a herança que nos corre nas veias, as várias civilidades, nos tenham obrigado a perspectivar, o que não significa (não deve significar) relativizar. dos gregos alimentamos o cuidado de si, a nostalgia com um passado original e perfeito, o gosto pela vida contemplativa e a visão de uma educação da excelência orientada pelas virtudes. dos judaico/cristãos a necessidade de expiação da culpa, os mecanismos de confissão, a atormentada consciência, dos modernos a confiança no espírito científico, no progresso e na racionalidade das nossas opções. daí que educar hoje tenha qualquer coisa de circense, malabarista, será como manter no ar sem cair várias bolas de diferentes tamanhos e cores, para isso temos de as manter em constante movimento, sem fixar, sem parar, obrigando a uma atenção contínua e focada em diferentes objectos simultaneamente. Basta uma pequena distracção e sentimos logo que o sistema empancou, é preciso voltar e tentar de novo. Pegar nas bolas e pô-las em movimento porque a questão principal parece-me a percepção do movimento, o modo como a proximidade de cada uma destas formas desenha, de forma dinâmica, o esquema sobre o qual nos compreendemos e nos avaliamos.
Imagem: Un autre monde, J.J. Grandville, 1884