quinta-feira, novembro 30, 2006

acho que foi a Yourcenar que escreveu, li-a citada pelo Saramago num artigo do Diário Notícias com alguns anos, não me lembro dos termos precisos mas a ideia seria mais ou menos esta: o verdadeiro nascimento é quando ganhamos consciência de quem somos. Quando a li pareceu-me uma certeza, curiosamente ao longo dos anos essa consciência ia fixando outros objectos, espúrios, até um dia como num súbito clarão, se abrir à compreensão, ganhamos consciência de quem somos quando por breves momentos habitamos outro, quando o deixamos de habitar e voltamos a nós então a casa parece estranha, vemos nitidamente os seus contornos , somos então essa casa que doravante passamos a habitar e que parece já não nos pertencer.

domingo, novembro 26, 2006

cesariny



De profundis amamus

Ontem

às onze

fumaste

um cigarro

encontrei-te

sentado

ficámos para perder

todos os teus eléctricos

os meus

estavam perdidos

por natureza própria.

Andámos

dez quilómetros

a pé

ninguém nos viu passar

excepto

claro

os porteiros

é da natureza das coisas

ser-se visto

pelos porteiros

Olha

como só tu sabes olhar

a rua os costumes

o Público

o vinco das tuas calças está cheio de frio

e há quatro mil pessoas interessadas

nisso

Não faz mal abracem-me

os teus olhos

de extremo a extremo azuis

vai ser assim durante muito tempo

decorrerão muitos séculos antes de nós

mas não te importes

não te importes

muito

nós só temos a ver

com o presente

perfeito

corsários de olhos de gato intransponível

maravilhados maravilhosos únicos

nem pretérito nem futuro tem

o estranho verbo nosso

À tua! Aos nossos estranhos verbos! Outra vez a esta voz! à tua voz! Bebamos!

quinta-feira, novembro 23, 2006

palavras

O tom
o tom de um texto.
a cor que toma
sarcástico
triste
castigador
queixoso
moralizante
ciente
disperso
sério
como se ralhasse ou brincasse, chorasse ou pedisse. Tudo. Pode-se transferir, sentir, tocar, fugir, acusar, roubar ou trair com palavras e só com palavras mas...just a moment...beberico...sim beberico, agora de um copo que tenho na mão, doce.Deponho o copo na secretária....continua...dizias...que são palavras mas mentirosas pois de facto nada disto se passa, nada disto se passa. Por momentos enquanto escrevia é verdade que bebericava, seria mesmo? Dos livros que se apinham por cima de tudo, secretária, chão, das palavras em inglês que me chegam. Basta?Qual será o tom deste discurso? Caminho com as palavras e vivo com elas, durmo com elas, penso com elas, das que são agora e das que são e deixam de ser como mortas e ainda com aquelas que são sempre e voltam, benditas, sobre elas escreverei, com as palavras que sobrevivem.

segunda-feira, novembro 20, 2006

lagos

" Não é fácil o amor, melhor seria arrancar um braço." Verdade. O que nos leva então à demanda? O desejo de ficar entrevados? Agora há amor por todo o lado, o amor isto e aquilo e tu e eu, eu e tu e fazes-me sofrer e eu sofro. Verdade. Aliás, não haverá verdade mais certa que esta. Fixo-te na paisagem antiga. No tempo sem tempo, no lago sagrado. Tem sentido? Todo. Só o sentido nos esmaga porque aqui e agora nada temos, só um desejo louco, um desejo louco e a passagem das horas, as tarefas e as coisas que nunca são completamente.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Filoctetes

No Teatro do Bairro Alto .
Um dia mendigo desprezado outro dia herói glorificado.
Assim é.
Palmas para o Luís Miguel Cintra.

terça-feira, novembro 07, 2006

Doclisboa



Parabéns à Leonor , pelo documentário e ...why not? Pelo prémio.

Ainda ao DocLisboa! Excelente!