Não há como dizer o que se sente sem recorrer aos termos estafados dentro dos quais cabe um variedade infinita de significados. O "tou bem" tão na moda, resposta à pergunta: "Tás bem?" ou "tristonha" , "angustiada","leve", "pesada", ninguém responde à pergunta com um "Sinto-me alegre" como se o sentir , melhor, a sua presença, fosse da ordem do fardo, como se ele se destacasse pelo peso.Vem-me ao pensamento, peso da alma.A alegria, não se questiona, como se de um estado de transparência, plano e sem contradições se tratasse. Assim é, ou parece ser. De facto, o sentimento, ou sentir, rodeia-se de uma espiritualidade confusa, toda ela luta, transparece em nós como um ensimesmamento, um virar-se para dentro, que motiva nos outros a pergunta. "Como te sentes?" pergunta com um certo tom retórico, visto que só surge quando o outro dá mostras de sofrer , logo, sabemos antes de perguntar. Talvez seja a nossa forma de o abrir, para que deixe de sofrer, ou apenas uma boa intenção, um sinal de que estamos por perto e percebemos. É bom estar por perto. Sim. Na lonjura inquietante que o sofrimento nos impõe, compreendemos que "estar por perto" é a máxima, o possível.