O 25 de abril , a praia e o Saramago
(esta praia ainda está invernosa)
No dia 25 de Abril de 2008 tentei arranjar cravos e não os havia, as floristas queixavam-se...estavam tão caros, pois de caros os símbolos acabam por ficar adiados. queria cravos, para o meu pai. sentimentalidade mas também justiça, o meu pai tinha uma relação de amor com o 25 de Abril, além da minha mãe, de nós, do Benfica, do Algarve ,da pesca... o meu pai era dado a relações de amor, bendito, o 25 de Abril reconciliava-o por um dia com a vida política, contava as velhas histórias, do 1º de Maio, quando tinha corrido à frente dos cacetes da polícia montada e subido um muro tão alto que não sabia como tinha tido força, "com medo da porrada a gente até voava!"dizia.
Ultimamente não era de manifestações, comemorava o 25 de Abril passeando com a minha mãe, se estivesse vivo, com o magnífico dia de calor e Sol, teriam ido até ao mar, essa a enorme vantagem de estar vivo, poder ir até ao mar, sentir a areia fina, o Sol a queimar a pele, a água gélida a subir-nos pelas costas, as ondas a quebrarem a força dos joelhos. Este Atlântico apelava-te à pesca, sei, preferias distância, mas a praia não é coisa mental, tu sabias muito bem, na praia a força mental desvanece, outras forças nos tomam, levam e enrolam.
No mar não pensei na Revolução, já tinha escrito um texto para o jornal da Escola e o meu dever estava cumprido, também falei vagamente aos alunos, mas tinha aquele grão de má consciência, aquela coisa redonda na barriga a dizer: "Fizeste pouco." às vezes gostava que a consciência me deixasse em paz com as minhas paixões, mas ela não se entusiasma, continua insidiosa. Sabemos que nos cabe a tarefa de manter a memória viva, não a memória das manchetes de jornal mas a memória afectiva que mais verdadeiramente perdura, as pessoas e as suas histórias de vida são mais eficazes que manifestações de rua, mas este ano a minha doutrinação ficou-se assim enrolada nas ondas. Acredito que há momentos para tudo.
Ps: A Exposição sobre a vida de Saramago é um exemplo do que deve ser uma exposição, um momento para lembrar aos mais novos o lado mais poético da Revolução.