segunda-feira, maio 26, 2008

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uma hipótese:
força, perseverança







um rasgo



Inocência

Um desafio:














o Romance


Respondo assim ao desafio lançado pela Presença . Seis palavras (ordem aleatória, até podem ser trocadas) e Quatro (deviam ser seis) imagens , ilustrando o que somos ou o que nos interessa. Passo a seis pessoas/blogs: Legível, Martini, Gi, Ana Paula, ~Pi e Herético.

quinta-feira, maio 22, 2008

um dia


O barco seguia rio acima, tínhamos as nuvens e o espelho das águas, tínhamos os olhos na última curva do rio, por detrás das árvores onde se escondia o castelo. tínhamos os sonhos que continuamos a ter, intactos como cristais puros e duros, mas nem mesmo o rio nos podia apaziguar o tumulto indizível, como se o essencial do sonho emergisse das águas e nos confrontasse na pele, haverá sempre uma voz de sonho que grita aos ouvidos, uma criança a chorar a infância perdida, e nenhuma paisagem, só árvores a arder. É assim.

segunda-feira, maio 19, 2008

farta de notícias imbecis


Raramente é dada a alguém a noção exacta das consequências das suas palavras ou atitudes. Dispersam-se no meio de outras tantas palavras e atitudes de todos os meios virtuais ou presenciais, distantes ou próximos. A quantidade de informação, insistente e constante gera uma sujidade tal que cada um adquire uma certa transparência como se a fábula do anel de Giges fosse enfim realidade. Assim se adquire pouco a pouco uma insustentável leveza, ninguém nos acusa, ninguém nos responsabiliza, tudo se esbate numa espécie de compreensão distraída, numa indulgência de quem não sabe o que dizer porque tanta coisa já se disse que não há como encontrar um fio à meada e saber como de facto interagem os discursos nas pessoas. O exemplo mais acabado desta brincadeira de autistas é a comunicação social e o cigarro na boca do Sócrates. Só porque o Sócrates , até ele, já tem esse estatuto transparente e amorfo de um a mais no jogo de snooker, também não conta...mas o cigarro sim, o cigarro conta, podia ser o penso rápido no joelho, ou a joaninha que esvoaçou para a gravata, há-de ser, tudo é notícia.
(desabafo imensamente sentido: JEJUM DE NOTÍCIAS, vão todos almoçar para o cacilheiro e levem uns tempos a atravessar! História, Filosofia, Ciência Política, Matemática, Astronomia durante um ano. Nada de notícias, só congestões e arrotos a bordo do cacilheiro, depois de muita lula e muito choco!)

quinta-feira, maio 15, 2008

mãe

A minha mãe no carro à saída do Hospital: Toma lá estes 50 euros para gasolina e para o tempo perdido a vir aqui e estar à espera...
O tempo perdido? Ó mãe se eu fosse a pagar-lhe o tempo que durante toda a vida a mãe perdeu comigo, não havia dinheiro que chegasse...quanto tempo mãe...quantos anos...
Está certo! disse, já com lágrimas nos olhos
guardou o dinheiro
e ficámos as duas silenciosas porque, às vezes, do meio do nada, saem umas Verdades com letra mesmo grande.

segunda-feira, maio 12, 2008

roupinhas

Pela primeira vez desde há muito tempo pus saltos e eyeline e vestido. Bravo !disse-me ao espelho, a essa mulher que não era bem eu, mas também era, ainda nessa noite recebi assobios e adorei, adoro estas personagens que me tomam, este indecoroso sentimento de vaidade...às malvas a moral! há na linha de um vestido a mesma ruptura com o real que há na linha do horizonte e just a miracle! assimilo as vertentes mais extravagantes de nessa linha se desenhar também um horizonte, ousar, ousar...
a roupinha depressiva estava a dar cabo de mim!
esqueçam! por uma noite deixei de ser urbano depressiva! estava a enjoar...a corriqueira das verdades, o que uma roupinha pode fazer ao ego! Mais que dez consultas no psiquiatra! Enfim! Andamos distraídas é o que é!

quinta-feira, maio 08, 2008

o livro que ando a ler


"Em cada vida digna deste nome há sempre um momento em que se imerge numa paixão, tal como ao atirarmo-nos para as cascatas do Niagara. Naturalmente, sem bóia de salvação. Não acredito em amores que começam como um agradável passeio de Primavera, de mochila às costas e alegres canções, pela floresta raiada de sol...estás a ver, aquela exuberância de "dia de festa", que alimenta a maior parte das relações humanas na sua fase inicial...Que suspeito isso não é! A paixão nada tem de festivo. Essa força tão séria, que tanto cria como destrói o mundo, não espera resposta dos que toca, não lhes pergunta se é bom ou mau, não se preocupa minimamente com os sentimentos humanos. Dá tudo e tudo pretende: exige uma entrega sem condições, alimentada pela mesma inergia primordial da vida e da morte. Nem de outro modo se pode saber o que é paixão...e quão poucos chegam a esse ponto!"


Sándor Márai, A mulher certa, pag.227


há um perigo eminente na literatura, na grande literatura, é o de convencer-nos que é assim e não pode ser de outro modo, é dar-nos uma sensação tão verdadeira como o ar que respiramos, o vento que nos bate na cara e, no entanto, trata-se de alguém, num dia do calendário gregoriano a puxar pela imaginação ,a responder à mulher que prepara o jantar enquanto as suas vozes vão tomando forma ao bater nas teclas e se vão enovelando como espirais de fumo no éter do tempo e do espaço, incautas, até alguém as ler e compreender, suspirar de satisfação ou de inquietação.Essa arma ou bomba armadilhada aos nossos calcanhares de leitores ingénuos, essa bomba relógio chamada discurso.

segunda-feira, maio 05, 2008

Autoridade: a toponímia milagreira


Crise académica em Coimbra Abril de 1969, mais imagens aqui



A propósito do Maio de 68 e porque estamos em Maio de 2008, quarenta anos depois.

Maio de 68 não foi uma manifestação ideológica mas a reivindicação de uma utopia, a luta por um lugar que não existe mas cuja ideia nos faz sonhar, um lugar de liberdade onde a discriminação e a autoridade eram simplesmente abolidas. O que de forma tácita era aceite como ordem passou a ser hipocrisia, era necessária outra ordem, fundada numa autenticidade, numa simpatia e não numa institucionalidade, não no status, o oco do que se perpetua por uma espécie de inércia, eram precisos beijos para calar os gritos e se não os beijos eram as chamas que aqui e ali sinalizavam a destruição da propriedade burguesa e estratificada, a força irrompia dos indivíduos em grupo sim, mas o que é curioso no Maio de 68 é que são alguns rostos anónimos que ganham o protagonismo, não os partidos, não as ideologias, era a discussão dos géneros, da sexualidade, da autoridade, dos papéis sociais de cada indivíduo, o direito do anónimo à palavra, hoje são temas incontornáveis na vida política, e se não são, deviam ser.


O maio de 68 não foi bem uma revolução, mas uma evasão, uma evasão que ultrapassou fronteiras, um espírito libertário a derramar-se como vírus, não um poder, mas uma força de contaminação afectando todos os sectores da vida pública, do modo de fazer política à vida privada e às relações entre homens e mulheres. Assumir a liberdade possibilitou o desvio da norma e esta não mais voltou a ser o que era. Contaminação. Contaminação lenta mas eficaz , só assim se pode mudar a ordem social e as mentalidades. Em Coimbra, Abril de 69, a sequela portuguesa.Salazar iria cair da cadeira pouco tempo depois, cinco anos depois caíam todos da cadeira .
Quando hoje falamos de crise da Autoridade, estamos a falar de quê? Queremos uma toponímia milagreira que reponha a ordem no caos da educação, da polícia, do estado, a questão é que essa autoridade já não tem a força nem a convicção institucional, essa acabou e penso que só voltará se cada um dos indivíduos a quiser, não para si, mas para todos, e não como indiscutível mas como qualquer coisa que nasce da necessidade e do respeito , não da ordem pré-estabelecida pela estratificação social, essa estratificação também já não existe.

quinta-feira, maio 01, 2008

massa com mexilhão


Faço uma excelente massa com mexilhão, porque será que quando o digo as pessoas franzem o nariz? é pouco atraente? estranho talvez...massa com mexilhão, acho que são mesmo as palavras têm muitas cavidades rochosas, muitas pontas, sei lá...não é nenhum talento especial, é só juntar as coisas de uma maneira saborosa e depois regar com um bom vinho. A verdade é que quem gosta de comer encontra sempre uma maneira de satisfazer esse gosto, e improvisar. Este post é tão profundo como isto, é que sempre que faço a massa, mergulho nas profundezas oceânicas para encontrar verdadeiros mexilhões, mexilhões selvagens, mesmo selvagens, tão selvagens que é preciso amassá-los, logo é uma odisseia em prato raso e só quem for cego é que não vê.